sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Crescimento económico e debate político


As reacções das diversas políticas à divulgação da taxa de crescimento da economia portuguesa no último trimestre de 2007 revelou a faltam de seriedade com que os políticos portugueses abordam as questões da economia.

Do lado do governo houve sinais de alegria ainda que tivesse sido evidente algum cuidado em não dar grande destaque ao assunto, as eleições ainda estão longe sendo cedo para adoptar medidas simpáticas. Sócrates referiu mesmo que estes novos dados ainda não permitiam descidas de impostos, deixando implícito que conta que o ciclo económico coincida com o ciclo eleitoral para os baixar.

A oposição reagiu com hipocrisia, em vez de ter defendido que estes indicadores poderiam não ter nada que ver com a política económica do governo optou para chamar a atenção para o desemprego. Quando os dados do crescimento são simpáticos a oposição fala de desemprego, se o emprego aumenta a oposição prefere dizer que o crescimento é fraco. Ficamos todos com a sensação de que para políticos como Menezes e Louçã o ideal seria a bancarrota, o PSD poderia ganhar eleições e o BE poderia sonhar com revoluções. Menezes chegou ao ponto de comparar o crescimento português com o chinês, como se isso fosse comparável.

Já aqui defendi que uma mesma taxa de crescimento económico pode traduzir realidades económicas muito diferentes. Um crescimento alcançado à custa de aumento da despesa pública ou de uma desvalorização da moeda (que felizmente deixou de estar nas competências nacionais) não passa de uma ilusão. Por isso no passado os nossos políticos recorreram sistematicamente a essa ilusão, levando a economia portuguesa ao estado em que está.

No contexto económico nacional e internacional estes dados são muito positivos, consegui-los apesar de todos os constrangimentos orçamentais e a par do aumento do desemprego significa que as empresas portuguesas estão a conseguir reagir a um ambiente adverso. Sectores particularmente sensíveis à concorrência dos países asiáticos, como os têxteis ou o calçado, conseguiram dar uma resposta eficaz, recuperando de uma situação em que se duvidava do seu futuro.

Este crescimento, apesar de ténue, é muito positivo porque não foi conseguido à custa de medidas fáceis, resulta da modernização de algumas empresas e da busca de novos mercados por empresas cujo mercado interno encolheu em consequência da redução da procura interna.

Todavia, é duvidoso que o governo possa chamar a si os louros, não há grande relação entre a actividade das empresas que impulsionaram este crescimento e as medidas governamentais. O Governo só poderá gabar-se que contribuiu para este crescimento com uma política que visou a desvalorização do trabalho, mas esse é precisamente o ponto fraco, se a médio prazo poderá trazer vantagens, a curto prazo pode dizer-se que os trabalhadores tiveram que pagar uma factura muito elevada. Nalguns casos, como o da Autoeuropa a competitividade das empresas foi recuperada mais à custa da sua co-responsabilização pelo futuro da empresa dos que às intervenções disparatadas do ministro da Economia.