segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Um país de pobres nunca será um país rico


Sempre que são divulgados indicadores relativos ao crescimento económico há quem venha concluir que nos estamos a aproximar ou a afastar dos níveis de desenvolvimento da Europa mais rica. Isso é uma ilusão, o crescimento económico apenas traduz um aumento da criação de riqueza, mas esse aumento pode resultar de muitos factores, até pode ser resultado de investimentos de fundos comunitários.

Se dois países têm a mesa taxa de crescimento, um em resultado da construção de um aeroporto com dinheiros comunitários e o outro em consequência de um aumento de exportações de produtos de grande valor acrescentado é evidente eu a médio prazo o segundo apresentará um desenvolvimento sustentado, enquanto o primeiro poderá assistir a uma quebra do crescimento e ao aumento do desemprego depois de concluídas s grandes obras.

A dinâmica actual das economias não tem quaisquer semelhanças com a do tempo de Keynes, durante cinco anos os países não divergem apenas na criação de riqueza, divergem nas aptidões profissionais do seus trabalhadores, na qualidade dos seus gestores, no desenvolvimento tecnológico das suas empresas. Os grandes investimentos públicos podem criar emprego a curto prazo, mas os seus efeitos multiplicadores serão irrelevantes para o futuro se não se traduzirem em formação, desenvolvimento tecnológico e melhoria nos níveis de produtividade.

Se as velhas teorias têm sido equacionadas é igualmente necessário reequacionar o papel do Estado, mais importante do que se gasta é a forma e, mais do que isso, a qualidade da despesa pública. Com os constrangimentos à despesa pública e os limites à utilização dos instrumentos de política monetária, resta ao Estado usar os recursos de que dispõe para promover um aumento de eficácia da economia. Não é a mesma coisa investir numa auto-estrada ou modernizar a rede do ensino público, construir jardim público ou criar um parque empresarial autárquico.

Para recuperarmos o atraso não nos basta produzirmos mais à custa de soluções aparentes, teremos que ser melhores do que os nossos concorrentes. Isso significa que teremos de ser mais eficazes e rigorosos, para isso teremos que ter melhores empresas, melhores serviços públicos, isso só é possível com trabalhadores mais envolvidos e empenhados, já que esse é um dos poucos recursos de que o país dispõe.

Nos últimos anos muito se tem feito para se gastar menos, principalmente quando as eleições estão distantes, mas muito pouco se faz para se gastar melhor e nada se faz para se envolver os portugueses no desenvolvimento económico. As reformas são pouco rigorosas e inquinadas por demasiadas situações de favorecimento, a criação de riqueza não se traduz na melhoria da situação da maioria dos portugueses u não sentem qualquer estímulo ara verem os objectivos nacionais como sendo também seus, as reformas do Estado são inconsequentes e conduzidas politicamente como se os trabalhadores fossem o seu principal obstáculo, os responsáveis políticos dão demasiados exemplos de incompetência e oportunismo para que possam ser considerados líderes do que quer que seja.

Portugal até poderá crescer um pouco mais nos próximos anos à custa do investimento numa mão-de-obra empobrecida, até poderemos ter a ilusão de que nos aproximamos da média europeia. Mas voltaremos a ser confrontados com o nosso atraso, o Estado não melhorou o seu modelo de gestão, as empresas não tiveram que competir graças ao empobrecimento dos trabalhadores, os alunos não aprenderão mais só porque os professores preencheram muitas fichas de avaliação.

Pior do que o fraco crescimento económico que se tem registado em Portugal é o facto de estarmos a perder terreno no desenvolvimento tecnológico, na qualificação dos trabalhadores, na competitividade dos serviços públicos. Enquanto os nossos parceiros buscam um desenvolvimento que seja capaz de enriquecer os seus cidadãos, em Portugal os governantes esgotam a sua imaginação em busca de soluções para empobrecer os trabalhadores, na ilusão de que com mais pobres as empresas serão mais competitivas.

A política económica também tem uma dimensão social e humana, sem essa dimensão a política económica é má. Uma política económica que assenta no pressuposto de que quantos mais pobres houverem mais fácil será enriquecer o país é uma má política económica.