Anda por aí alguma confusão desde que a comunicação social deu conta do aumento das cotações no mercado de futuros das bolsas de mercadorias, levando as panificadoras a sugerir de forma oportunista a intenção de aumentar o peço do pão em 50%. Sejamos honestos, se as panificadoras precisassem de aumentar o preço do pão em tal percentagem para fazer corresponder o preço aos custos há muito que teriam ido à falência. O peso do preço dos cereais no preço do pão situa-se nos 5% e, como se sabe, nenhum dos outros factores de produção (mão-de-obra, energia, fermentos e água) teve aumentos de custos dessa ordem.
Todavia, seguindo a linha de raciocínio de Belmiro de Azevedo os panificadores têm alguma razão, se a banca repercute integralmente o aumento dos custos e ainda consegue aumentar os lucros porque deverão as outras empresas suportar prejuízos? Só que Belmiro se esqueceu de dizer que as sus empresas de distribuição e de telecomunicações fazem o mesmo que a banca.
É verdade que os preços agrícolas subiram e é muito provável que ainda continuem a subir, contrariando as previsões que a generalidade das instituições fizeram em 2007, designadamente, a OCDE e a FAO. O preço da generalidade dos preços dos produtos alimentares, principalmente das carnes e dos produtos lácteos irão ainda aumentar de forma significativa. Porquê?
O recente aumento dos preços dos produtos agrícolas resultou da combinação dos seguintes factores:
- Redução da produção de alguns grandes produtores de cereais devido a causa climáticas, com destaque para a situação de seca que atingiu a Austrália.
- Aumento do consumo, principalmente de lácteos e carnes, nas economias emergentes (China, Rússia, Brasil Índia e outros países).
- Aumento da procura de cereais para a produção de biocombustível.
À conjuntura do mercado mundial temos de acrescentar a redução dos excedentes comunitários e a eliminação dos mecanismos de intervenção resultantes da reforma da Política Agrícola Comum. A economia comunitária está agora mais exposta às oscilações de preços do mercado mundial, situação que no passado não sucederia.
A situação actual do mercado mundial de produtos agrícolas é de quase inexistência de stocks e de aumento da procura de produtos alimentares, o que significa que qualquer notícia que aponte para um aumento da procura ou uma redução da oferta desencadeia um aumento dos preços. Não admira, portanto, que os contratos de futuros do trigo nas bolsas de Chicago ou de Paris estejam a ser feitos em alta, ainda que seja muito cedo par prever as produções de cereais no hemisfério norte já que as colheitas apenas ocorrerão no Verão, não havendo registo de qualquer redução da área cultivada.
A médio e longo prazo as previsões da OCDE_FAO apontam para uma redução dos preços ainda que na próxima década se situem muito acima da média registada na última década., no caso da carne de aves de capoeira esses preços serão mesmo substancialmente superiores e em sectores como os lácteos e a carne de bovino a redução não será muito substancial.
Todavia, são muitos os factores de incerteza já que se a procura tenderá a crescer a oferta é relativamente rígida. Daqui resultam riscos políticos elevados, se em Portugal o aumento dos preços pode desencadear uma situação de crise social e política, já que com o desemprego em alta aumentos significativos de preços levarão muitos portugueses a passar fome, essa realidade pode ser bem mais grave em países pobres, até porque com os stocks alimentares dos países desenvolvidos em baixa dificilmente há capacidade de resposta para uma crise com recurso à ajuda alimentar.
O ministro da Agricultura te razão ao dizer que os portugueses têm de se habituar a pagar os produtos agrícolas pelo que custam, só é pena que isso nunca tenha sucedido na Europa onde a PAC aumentou artificialmente os preços obrigando os europeus a pagar muito mais pelos produtos alimentares do que qualquer outro povo. A pagar caro e ainda por cima a suportar os impostos que financiavam uma PAC que absorvia mais de 40% do orçamento comunitário.
Infelizmente não posso estar tão tranquilo como o ministro da Agricultura, a situação do mercado agro-alimentar é demasiado grave e complexa para que apenas mereça um breve comentário depois da insistência dos jornalistas, é muito mais importante do que a preocupação de Paulo Portas com a cor dos dentes, diria mesmo que em mtéria de alimentaçõ os dentes de Paulo Portas são os que menos me preocupam.
Seria bom que o ministro da Agricultura se preocupasse mais com a cor da fome dos portugueses com a cor dos dentes de Paulo Portas, até porque ele sabe mais de política agrícola do que de medicina dentária. Seria também bom que não se esquecesse que a gricultura tem uma importância que vai par além da economia e dos mercados, é necessário assegurar a alimentação dos portugueses e com os preços a subirem, os rendimentos dos mais pobres a minguar e o desemprego em alta esta deveria ser uma preocupação prioritária do ministro.
O ministro sabe muito bem que um cenário de fome em Portugal não é nada inédito, sabe que há poucos anos atrás a Comunidade teve que enviar mais de 300.000 toneladas de trigo para Portugal para acorrer às consequências dramáticas de uma seca. Sabe também que os pensionistas, os desempregados, os que vivem do rendimento mínimo e os muitos que ganham o salário mínimo ou pouco mais dificilmente suportarão mais aumentos de preços dos produtos alimentares e que um cenário de forte subida dos preços dos lácteos e das carnes é muito provável.
Há mais agricultura para além dos corredores governamentais, das ajudas comunitárias e das reestuturações do ministério da Agricultura.