Na linguagem codificada da Administração Pública um dirigente despacha com um “tomei conhecimento” quando não há nada para decidir ou não se quer comprometer com a decisão. No caso do edifício do Casino Lisboa Telmo Correia recorreu ao “tomei conhecimento” para se eximir de quaisquer responsabilidades, um ministro que estava lá para decidir na hora da verdade escreve algo como “não me comprometam” Só que os ministros não são nomeados para ficarem a ver a paisagem e se Telmo optou por não decidir neste caso é porque admitiu a solução de que supostamente só tomou conhecimento.
Não se pense que o “tomei conhecimento” de Telmo Correia é uma raridade, chamou a atenção pelo absurdo que foi tomar uma decisão lesiva do Estado em favor de um privado ao mesmo tempo que preparava o caminho para fugir à responsabilidade. O “administranês” do nosso Estado é uma linguagem codificada, cheia de truques e de fórmulas para passar a responsabilidades a terceiros, é uma linguagem dominada por corruptos, cobardes e subservientes.
Por exemplo, quando uma chefia quer fazer-se de parvo ao mesmo tempo que passa a responsabilidade a um qualquer outro, como quem passa uma batata quente, recorre a um “para conhecimento de Vossa Ex.ª para os efeitos tidos por convenientes”.É como quem diz “toma lá e desenrasca-te por desta já eu me livre”. Neste caso Telmo não podia recorrer a esta fórmula a não ser que pretendesse encalacrar Santana Lopes.
Este “administranês” está presente em todas as páginas escritas no Estado onde impera uma cultura de irresponsabilidade, cobardia e subserviência. É frenqute ler expressões como “salvo melhor opinião”, “Vexa melhor ajuizará” ou o “à consideração superior”. É uma herança de outros tempos que ainda faz parte do código genético da maior parte das chefias do Estado.
Quem melhor do que Telmo Correia, algém que politicamente já nasceu velho para dominar este administranês salazarento.