Não vem grande mal ao mundo que Santana seja advogado e que tenham prestado alguns serviços quando andou por aí, a advocacia é uma profissão liberal e só recorrer aos seus serviços se o entender, a não ser que o conhecido advogado seja nomeado para uma oficiosa. Também não me faz grande confusão que na sua página da Assembleia da República seja apresentado como professor enquanto na sua declaração de interesses diga que é advogado, apesar de todas as suas trapalhadas já todos os portugueses conhecem Santana de ginjeira, tão bem o conhecem que até escolheram Sócrates só para se livrarem dele.
Mas Santana não é um deputado qualquer, foi primeiro-ministro deste país e ainda que tenha o direito à sobrevivência convinha que não esquecesse dessa condição, ele não é um qualquer advogado que vai fazendo uns biscates para compor os rendimentos. De um ex-primeiro-ministro espera-se um comportamento acima de qualquer suspeita e para se estar acima de qualquer suspeita não basta cumprir regras mínimas de ética.
Prestar serviços a uma empresa que privatizou pode não violar qualquer lei ou código de ética como o próprio Santana defendeu, mas não está acima de qualquer suspeita, até porque sabemos que a lei é tolerante e o tal código de ética nem existe, como defendeu o ministro da Justiça a ética republicana é a lei. Logo, se não há lei não há ética, se a lei é pouco exigente a ética sê-lo-á ainda menos.
Digamos que ver um ex-primeiro-ministro num part-time ao serviço de uma empresa que privatizou não é muito elegante, tratando-se de uma empresa estrangeira, neste caso espanhola, também não é um grande motivo de orgulho para os seus concidadãos.
Mas Santana não fez apenas biscates para a empresa espanhola, em 2006 beneficiou de um trabalho de consultoria na Câmara Municipal de Vila Real de Santo António que lhe rendeu 37.000. Isto é, um ex-líder do PSD prestou serviços a uma autarquia dirigida por um militante do PSD.
Isto faz-nos pensar sobre a forma como os nossos deputados ganham dinheiro. Assessorias a empresas, públicas, privadas e municipais, consultoria aos governos regionais, prestação de serviços a autarquias, enfim, são muitas as formas de os amigos dos deputados colocados pelos partidos em autarquias e empresas retribuírem os cargos que alcançaram. Compreende-se, os que tiveram colocações lucrativas devem ser solidários com os que ficaram no parlamento a ganhar o “rendimento mínimo”.
Só que quando se fala dos rendimentos dos políticos nunca se referem estes rendimentos ocultos, rendimentos que podem ser muito superiores aos que são referidos no debate. Só com a prestação de serviços à CM de Vila Real de Santo António Santana Lopes recebeu mais do que recebe um deputado durante um ano. Resta saber quanto lhe pagaram os nuestros hermanos, bem como outros “clientes” que possa ter tido e cuja identidade desconhecemos.
Seria muito interessante se todos os advogados divulgassem os clientes dos seus biscates.