Nos últimos tempos José Sócrates desdobrou-se em afirmar que o seu governo é de esquerda porque nenhum outro tinha adoptado tantas medidas de apoio aos mais pobres. No último debate parlamentar surpreendeu mesmo com a divulgação de mais algumas medidas.
Talvez porque as suas medidas não convencessem algumas das personalidades do seu próprio partido, José Sócrates avançou com uma pequena mexida do governo, sugerindo-se que se tratava de uma mudança de atitude. Para ministra da Saúde escolheu mesmo uma personalidade da área de Manuel Alegre, como se tal escolha certificasse uma viragem à esquerda.
Se há muito que não sei bem qual a fronteira entre a esquerda e a direita, confesso que nestas decisões de Sócrates nada vejo nem de esquerda, nem de direita.
As medidas sociais não são uma preocupação exclusiva da esquerda, o que poderá distinguir a esquerda da direita poderão ser a natureza das medidas e a forma como são financiadas. Se quanto à natureza da medidas não há nada a comentar, já quanto à forma como são financiadas é evidente que não traduzem qualquer política de rendimentos, são financiadas à custas de aumentos de impostos sobre os menos pobres, são a classe média e outros que não sendo ricos são cada vez mais pobres que financiam estas medidas. É fácil dar aos mais pobres, o mais difícil é convencer os mais ricos a fazê-lo.
Já quanto à substituição do ministro da Saúde é preciso dizer que mais do que uma opção política esteve em causa a cedência ao aparelho partidário (mais preocupado com cargos e gestão do poder do que com a ideologia) do que com qualquer mudança política. Travar uma reforma que, ainda que com erros, estava a dar resultados, não é ser de esquerda, é ser medroso e menos competente.