Se, à semelhança dos chineses, os europeus associassem animais aos anos do calendário o ano de 2008 teria sido o ano do asno, tantas foram as asneiras cometidas neste país, 2008 foi um ano em que a asneira, talvez por ser a única coisa que não paga imposto em Portugal, dominou a nossa vida política.
Logo no primeiro dia do ano Dias Loureiro foi notícia por andar nos bastidores do PSD a promover o nome de Relvas para a liderança do PSD, Joe Berardo recusava Cadilhe para a liderança do BCP por considerar que o banco não era um lar da terceira idade e o António Nunes, o boss da ASAE, era apanhado a cigarrar no Salão Preto e Prata do Casino Estoril. No mesmo dia soube-se que o recurso à maternidade de Badajoz estava a ser um sucesso, facto que não foi comentado por Manuel Alegre que na ocasião do encerramento da parteiraria de Elvas estava tão incomodado que os portugueses fossem nascer a Espanha que até se colocou ao lado de Marques Mendes. Aliás, no primeiro mês de 2008 Alagre não se cansava de elogiar gente do PSD, chegou mesmo a elogiar Pedro Santana Lopes: «O deputado do PS Manuel Alegre e o historiador Vasco Pulido Valente elogiaram esta sexta-feira Pedro Santana Lopes por ter recusado qualquer aconselhamento profissional sobre a comunicação do grupo parlamentar do PSD, que lidera, refere a Lusa.».
O ano de 2008 ficou marcado pela incapacidade de prever a crise económica, ainda que Mário Soares se tenha armado em Nostradamus e no primeiro dia do ano o El Pais publicava uma entrevista do ex-Presidente onde este dizia «O ano que se aproxima, 2008, não parece ter um bom auspício», admitiu, porque «os sinais de crise financeira que afecta as Bolsas mundiais podem conduzir, com certa probabilidade, a uma importante crise económica, com inevitáveis reflexos na Europa» Enfim, Teixeira dos Santos não deve ter lido a entrevista ou não lhe deu atenção pois o forte de Soares nunca foi a economia.
Aliás, Teixeira dos Santos foi, a par de Manuela Ferreira Leite, o campeão da asneira, em vez de atender aos sinais de crise adoptando medidas capazes de preparar o país e os portugueses para o melhor, optou pelo optimismo e elaborou um orçamento que poderia ter como subtítulo “Alice no País das Maravilhas”. O resultado foi o que se viu, o Financial Times escolheu-o para pior ministro das Finanças da Europa.
Sócrates também se revelou um optimista e no dia 6 de Janeiro dizia «são bem-vindos, esses votos, bem precisamos deles. Em todos estes anos [desde que foi eleito, em 2005] sempre pude dizer que o ano que começa agora foi melhor que o ano anterior. Foi assim em 2005, foi assim em 2006 e tenho todos os motivos para vos dizer que o ano de 2008 será ainda melhor que o de 2007». Será que seguindo a sua boa estrela 2009 será melhor do que 2008?
Ainda em Janeiro Manuel Alegre tranquilizava o PS, dizendo no parlamento que não iria deixar o PS, afirmou de forma clara "eu também sou o PS". Pois, agora diria “sou um bocadinho do PS, outro do Bloco de Esquerda, outro do PCP e dos seus militantes desavindos e um bocadinho de mim próprio”.
Bastaria ler o que se disse em Janeiro para se perceber como 2008 foi o ano campeão da asneira como, aliás, se veio a comprovar ao longo do ano com o chorrilho de asneiras a que assistimos.
O PSD escolheu Manuela Ferreira Leite para tentar perceber até onde poderia ir a sua perda de votos e Manuela Ferreira Leite escolheu Pedro Santana Lopes para verificar até onde poderia ir a sua perda de credibilidade e ao mesmo tempo testar a paciência de Pacheco Pereira.
José Sócrates deve ter tido dificuldades em manter o seu guarda-roupa de marcas de luxo e dedicou uma boa parte do seu tempo ao part-time de vendedor de portáteis, começou por dedicar uma boa parte do seu tempo a “vender” o e-escolinha e depois mudou-se para o Magalhães, chegando a vendê-lo numa cimeira Ibero-americana. Nem os seus assessores se escaparam ao marketing agressivo e foram obrigados a usar o Magalhães.
Cavaco Silva quase não falou ao país, passando Manuela Ferreira Leite a assumir o papal de porta-voz não oficial da Presidência da República. Para além da comunicação de Ano Novo Cavaco Silva falou duas vezes ao país, uma para dizer porque devolvia o Estatuto dos Açores ao Parlamento e outra para dizer que promulgava do diploma depois deste ter sido votado outra vez pelos deputados. O ano de Cavaco foi tão mau que o Palácio de Belém poderia passar a designar-se por Palácio da Asneira.