Nos últimos tempos foram vários os caros que nos fazem pensar que os nossos sindicatos são cada vez mais dirigidos por gente que vive do sindicalismo e para quem os seus próprios interesses estão acima dos problemas dos trabalhadores. Aliás, basta ver o currículo de muitos dos nossos sindicalistas para percebermos que uma boa parte deles há muito que abandonaram as suas profissões, sendo sindicalistas profissionais há décadas, vivendo tranquilamente nos gabinetes sindicais sem sequer terem que prescindir dos vencimentos quando convocam greves.
Há algum tempo veio a público que um sindicato da CGTP tinha levado os trabalhadores a ficar dias e dias à porta de uma fábrica a aguardar uma decisão judicial a um requerimento que não chegou a ser interposto. Os mesmos trabalhadores, que tinham sido despedidos e estavam sem ordenados há algum tempo, teriam que pagar ao sindicato dois anos de quotas e 10% da indemnização que viessem a receber. Ficou a saber-se que este dízimo (na UGT é de 5%) é uma importante fonte de financiamento dos sindicatos, isto é, que os nossos sindicalistas vivem em grande parte à custa dos desempregados.
Veio a público que nos CTT haviam 80 sindicalistas à viver à conta da empresa, número bem maioria. do que o de empregados da maioria das empresas portuguesas. Como o acordo de empresa caducou deixaram de beneficiar da isenção de horário e tiveram que voltar ao trabalho. Ficou a perceber-se que um dos preços pagos pela empresa de correios para assegurar a paz laboral era pagar a um exército de sindicalistas.
Na Câmara Municipal de Lisboa os trabalhadores da limpeza foram convocados para uma greve de quatro dias e foi entregue um novo pré-aviso de greve para mais quatro dias só porque António Costa ousou ler um estudo sobre a possibilidade de contratar privados para limpar duas zonas de Lisboa. Para os sindicatos o autarca eleito para gerir a autarquia só pode fazer opções com que os sindicalistas estejam de acordo, mesmo que isso vá contra os interesses dos cidadãos. Não hesitam em levar trabalhadores que ganham pouco mais de 500 euros por mês a prescindir de oito dias de ordenado no mês do Natal para fazerem chantagem sobre a autarquia. Não estando em causa nenhum direito dos trabalhadores o que move os sindicatos? O medo de perderem influência e quotas, fazendo perigar as suas próprias mordomias.
No ensino é cada vez mais evidente que Mário Nogueira está mais interessado no conflito político-partidário do que nos direitos dos trabalhadores, chegando ao ridículo de colocar em causa a dignidade da classe apresentando uma proposta ridícula de auto-avaliação. É cada vez mais evidente que Mário Nogueira está mais preocupado com as directivas que recebe e com a influência da FENPROF do que com os direitos dos trabalhadores.
Começa a ser evidente que alguns sindicatos são geridos por profissionais do sindicalismo, alguns em par-time já que são dirigentes destacados de partidos políticos, cargos a que ascenderam graças ao seu papel nos sindicatos. São “não trabalhadores”, uma espécie de gestores sindicais que vivem à custa dos trabalhadores, do Estado e das empresas públicas que lhes pagam os ordenados.
O seu papel não é negociar, é fazer vergar o Estado, impedir governantes e autarcas de gerir os interesses públicos, recorrendo à greve mais como instrumento de descontentamento popular do que de reivindicação. Não participam nas negociações para defender os interesses dos trabalhadores, mas sim para salvaguardar a sua própria imagem e defender os interesses dos sindicalistas. Quanto mais aparecem nas televisões maior é a sua notoriedade pública, quanto mais contribuírem para a erosão eleitoral dos governantes e autarcas mais são promovidos no seu partido.
São sindicatos que vivem mais em função dos seus dirigentes do que no dos trabalhadores. É caso para dizer que há lodo no cais.