Há muito que o cavaquismo tinha morrido mas esqueceram-se de o enterrar, adoeceu gravemente com o famoso tabu de Cavaco Silva e a consequência derrota na sua primeira candidatura presidencial, acabou por morrer quando os portugueses se aperceberam que dez anos de fundos comunitários desbaratados não mudaram os paradigmas da economia portuguesa, que enfrenta mais uma crise com os problemas de sempre.
O cavaquismo recusou o enterro e Cavaco Silva acabou por chegar a Belém, mais por falta de um adversário credível do que por mérito próprio, tudo parecia levar a crer que ganhava nova vida. OS cavaquistas voltaram a ter protagonismo na política portuguesa e acabaram por retomar a liderança do PSD, onde as manobras dos assessores do Presidente foram notícia. Com Cavaco na Presidência, Manuela Ferreira Leite na liderança do PSD e numerosas figuras dos tempos dos governos de Cavaco Silva em posições de destaque no mundo da economia, os cavaquistas voltaram a sonhar com o poder absoluto, liderar o Governo e a Presidência da República, algo que nunca conseguiram.
A estratégia era evidente, Manuela Ferreira Leite até usou as confidências de Belém para fazer oposição, chegando ao ponto de questionar Sócrates em público com as mesmas perguntas que a equipa de Cavaco Silva fazia em privado. Cavaco Silva passou a aproveitar todas as oportunidades para hostilizar o PS (mais o PS do que Sócrates), envenenando progressivamente as relações entre Presidência e Governo, quando não vetava um diploma fazia uma declaração venenosa para o governo. Deixou de manifestar solidariedade institucional, pôs fim aos elogios que costumava a fazer às reformas, ou apenas o fez muito longe do país e com o objectivo de brilhar.
Só que a mesma crise que serviu de espoleta para os cavaquistas retomarem a liderança do PSD, evidenciou que Manuela Ferreira Leite é um desastre político, criaram uma imagem da senhora que não tem correspondência nem na sua inteligência nem na sua capacidade para liderar um partido e, muito menos, um governo. Como não bastava a queda contínua nas sondagens de um partido liderado por uma Ferreira Leite aconselhada por Pacheco Pereira, a sondagem veio pôr a nu os bastidores da finança dos cavaquistas.
O país ficou a saber que alguns dos políticos mais bem mais próximos de Cavaco Silva estavam envolvidos na implosão do banco que eles próprios criaram. Os portugueses ficaram a conhecer os métodos pouco transparentes como geriram um banco, não olhando a meios para violar a lei. A ligação destas personagens a Cavaco Silva é tão forte que o próprio Cavaco Silva foi obrigado a emitir um comunicado familiar sem precedentes na história da República. Tudo isto nos dois ou três dias seguintes à detença de Oliveira e Costa, uma detenção que deixou meio mundo cavaquist em pânico pois o antigo tesoureiro do PSD terá dado a entender que não estaria disposto a ser o boi da piranha.
As dúvidas avolumaram-se e chegou-se o ponto mais baixo da Presidência da República, Cavaco dedicou várias intervenções públicas a Dias Loureiro, uma delas inocentando-o à margem da investigação em curso, justificando desta forma a manutenção do seu velho companheiro de BX num cargo cuja única vantagem prática reside na imunidade que confere ao ex-administrador do BPN.
Com os cavaquistas desorientados e à beira de se retirarem da política, com Cavaco a não vetar mais nada nem fazer qualquer comentário venenoso em relação ao Governo e Manuela Ferreira Leite a descer vertiginosamente nas sondagens, anuncia-se o fim do cavaquismo. Os cavaquistas desertam em pânico com receio dos danos colaterais que podem resultar da investigação ao BPN, Cavaco ficoui refém de José Sócrates e o PSD afunda-se enquanto ninguém está disposto a candidatar-se à sua liderança com as sondagens em baixa.
Podemos estar a assistir ao enterro do cavaquismo que poderá ter como consequência uma derrota pouco honrosa do PSD nas próximas legislativas e a não apresentação de uma nova candidatura presidencial por Cavaco Silva.