A necessidade de entreajuda para enfrentar a crise foi uma das ideias fortes da comunicação de Natal de Sócrates que não mereceu qualquer comentário, coincidência ou talvez não?
Entreajuda é coisa que os portugueses desconhecem a não ser no futebol e apenas nos bons momentos, se há conceito que os portugueses não têm é precisamente este, facto que é observável no dia a dia.
Com a ditadura a maioria dos portugueses acobardou-se e passou a ter uma visão paternalista do Estado e dos ditadores, era do Estado e do presidente do Concelho que se esperavam as soluções, foi preciso o regime cair de podre para os portugueses terem um momento de unidade, coisa que durou menos de um mês, talvez pouco mais de uma semana.
Com a democracia os portugueses habituaram-se a atribuir a culpa ou ao governo, primeiro vota-se e depois diz-se que se está arrependido, nenhum governo é bem sucedido. Independentemente do partido que está no governo os da oposição nunca lhe encontram qualquer mérito, quando uma personalidade conotada com a oposição fala bem do governo é mais para desfazer na liderança do seu partido do que a pensar no país, foi o que os cavaquistas (incluindo o próprio Cavaco Silva) fizeram enquanto o PSD foi liderado por Luís Filipe Menezes.
É evidente que se questionarmos qualquer político sobre a necessidade de entreajuda nenhum vai dizer que não é necessária, todavia vai acrescentar um mas. O PCP dirá que é necessário acabar com a política de direita para que o resultado dessa entreajuda vá parar às mãos dos mais ricos, é mais ou menos o mesmo que dirá Louça. Manuela Ferreira Leite dirá que sim, mas essa entreajuda não fará sentido se for para ajudar a financiar obras públicas.
As várias corporações também estarão de acordo, mas cada uma delas porá como condição para se envolver nessa entreajuda a satisfação das suas reivindicações.
A verdade é que a regra com que os portugueses se habituaram a viver nos últimos trinta e cinco anos foi a do salve-se quem puder, cada um amanha-se o melhor que pode mesmo que seja em prejuízo do seu país, do amigo, do vizinho e até do familiar.
Se Kennedy voltasse e perguntasse aos portugueses e perguntasse o que estavam dispostos a dar pelo país ouvia um imenso não, um não que iria da Madeira aos Açores e do Algarve a Trás-os-Montes. Depois temos sempre uma boa desculpa para o subdesenvolvimento, a culpa é sempre dos outros, para os professores é dos ministros da Educação. Para os magistrados é dos ministros da Justiça, para a direita é da esquerda, para a esquerda é da direita e da própria esquerda, para os trabalhadores é dos empresários e vice-versa, ninguém tem culpa.