quinta-feira, dezembro 11, 2008

Não ceder às tentações da crise


O maior erro de política económica que o governo pode cometer é ceder à tentação de combater a crise com a ilusão da criação de emprego, desbaratando num ano os que se conseguiu com vários anos de sacrifícios. Ultrapassada a crise os governos europeus vão descobrir que os défices orçamentais farão perigar a sustentabilidade do crescimento económico e Portugal mergulhará de novo em políticas de austeridade, quando o resto da Europa voltar a crescer estaremos de novo a suportar os custos da irresponsabilidade.

O país nem tem poupanças nem capacidade de recuperar de grandes défices orçamentais, qualquer aumento disparatado da despesa resultará em mais um período de dificuldades, enquanto os nossos parceiros recuperarem estaremos a lamber as feridas. Quando for necessário apostar no investimento e na inovação, como condições para assegurar a competitividade das empresas, estaremos a apertar o cinto para corrigir a situação financeira do Estado.

Não estamos perante uma crise típica resultante de um ciclo económico, o problema situa-se nos mercados financeiros e a crise será superada quando esses mercados recuperarem a confiança. Não é possível estabelecer previsões, nem a solução tipicamente keynesiana terá os resultados que poderia ter em circunstâncias normais.

A solução passa por rigor, por acudir às situações sociais mais graves e por apoiar a manutenção do emprego das empresas que verifiquem padrões mínimos de competitividade e que cumprem as regras da legislação laboral. Se o Estado não tem meios para superar a crise, que reserve os poucos meios que tem para promover o crescimento quando este for viável, evitando a adopção de medidas que o comprometam.

Em ano eleitoral a crise será uma tentação, se o governo optar por gastar tem uma boa desculpa, até Constâncio já defende essa solução. A oposição será contra, da mesma forma que apelará à despesa se o governo optar por uma estratégia de rigor. Como é costume neste país, os políticos colocarão os interesses partidários acima dos nacionais, tenderão a optar por soluções de política económica mais em função dos seus objectivos eleitorais do que dos custos a suportar pelos portugueses.

É preciso bom sendo, coisa que os políticos não costumam nem gostam de ter em tempo de eleições.