O primeiro-ministro foi reunir-se com o pessoal da indústria automóvel, lá deu mais umas centenas de milhões, coisa que nos últimos tempos é frequente, mas não se esqueceu do pessoal que não tem depósitos bancários não cobertos pelo fundo de garantia, nem acções no BPP. Ao ouvi-lo tive a sensação estranha de que pouco tempo depois da mudança da hora veio a mudança da data, a generosidade foi tanta que pensei que já era Natal e fui a correr meter o sapatinho na lareira, perdão, em cima do fogão, debaixo do buraco na parede a que convencionamos chamar chaminé.
Então o nosso primeiro-ministro não nos prometeu gasolina mais barata e juros mais baixos? O problema é que não dou grande uso ao carro, nem tenho grandes créditos bancários, resta-me beneficiar da baixa da taxa da inflação e do aumento dos funcionários públicos. Como já me esqueci do aumento de 2% do iva, do aumento do IRS, do fim da dedução da pensão de alimentos e de outras pequenas maldades até fico com a sensação de que em 2009 ainda poderei lançar uma opa sobre o BCP. Olhem que nem seria uma má ideia, metia a massa ao banco e quando estivesse à beira da falência ia almoçar com o Constâncio, no dia seguinte apareceria o Teixeira dos Santos com mais uma intervenção por causa do risco sistémico. Com toda a massa que tinha metido ao bolso ainda poderia ter um decreto-lei a conceder-me o terminal de contentores no Terreiro do Paço! Até porque uma placa giratória para os contentores de brinquedos vindos da china e de plástico para recilar para o mesmo país lucrava mais ao país do que o hotel de charme em que se transformaram as arcadas da praça onde o único que não mija na rua é o cavalo do D. José.
Só espero que Sócrates tenha mais jeito para as previsões económicas do que para o desenho de construção civil, porque essa coisa de ver um primeiro-ministro a prometer baixas das cotações do petróleo e das taxas de juro para o ano seguinte mais parece bruxaria do que discurso de governante. Eu diria que da mesma forma que Manuela Ferreira Leite resolveria os problemas das reformas suspendendo a democracia durante seis meses, também Sócrates poderia acertar as suas previsões se pudesse decidir a suspensão dos mercados durante igual período. A diferença é que Manuela Ferreira Leite teve imaginação e Sócrates teve um palpite, venha o diabo e escolha.
Se fosse nos meus tempos de infância e estivesse numa feira diria que estava a ouvir um “caga milhões” gritando “e pelo mesmo preço dou-lhe ainda estes atoalhados, mais este cobertor, e aind esta almofada, mais…”. Mas não já estou crescidinho, já não há “caga milhões” (não haverá mesmo?) e quem prometeu o imprevisível foi um primeiro-ministro. Finalmente percebi a política económica de José Sócrates, as coisas más decreta ele, as boas são previsões. Depois de ter ouvido dizer que o Financial Times considerou Teixeira dos Santos o pior ministro das Finanças da Europa sou tentado a pensar que é Teixeira dos Santos que anda a dar explicações de previsão económica a José Sócrates.
Com tanta promessa só me resta esperar que no próximo ano José Sócrates prometa o reaquecimento global!