Enquanto à direita a luta trava-se mais no interior do PSD, com o CDS tranquilo, à esquerda nunca houve tanta confusão como aquela a que estamos a assistir. Mais do que a incerteza quanto à renovação da maioria absoluta por José Sócrates, a grande batalha política trava-se no interior da extrema-esquerda ou, como alguns preferem, designar, a esquerda da esquerda.
Nunca o BE esteve tão próximo de ultrapassar o PCP e a estratégia manhosa de Francisco Louça está a irritar Jerónimo de Sousa ao ponto de ter dominado o congresso do PCP, o único facto político relevante do conclave foram as referências feitas o BE no discurso de abertura. Mesmo que o PCP venha a ter mais votos se for ultrapassado pelo BE sofrerá a maior derrota política desde o 25 de Novembro.
Pouco importa o número de deputados, o que está em causa é um princípio sagrado de qualquer partido comunista, por definição é o partido líder do “proletariado”. Se o BE tiver mais votos do que o PCP isso significa uma humilhação da liderança do PCP. Ainda por cima esta avaliação tanto pode ser feita a nível nacional como distrito e mesmo concelho a concelho. Daí que qualquer aliança entre o BE e o PCP é impossível. Trinta e cinco anos o PCP poderá ser ultrapassado por uma extrema-esquerda que aprendeu a esconder os Fazendas e prefere mostrar as Joanas Amaral Dias.
Enquanto Jerónimo de Sousa usas o ineficaz Avante para atacar semanalmente o BE, Louça tem adoptado uma estratégia incómoda para o PCP, aproximou-se das iniciativas da CGTP, participa e apoia as suas iniciativas e nas escolas tem tido um papel activo, condicionando mesmo a estratégia da FENPROF, dividida entre a tentativa de conciliação e o receio de perder a liderança dos professores para os “movimentos independentes”.
Ao mesmo tempo que se cola às iniciativas da CGTP Louça encosta-se ao movimento de Manuel Alegre, namora Helena Roseta e faz suas as propostas de Maria José Morgado. Neutraliza os ataques do PCP com as convergências nas lutas de rua e namora a ala esquerda do PS procurando capitalizar o descontentamento dos eleitores da ala esquerda do PS. Enquanto isso Jerónimo de Sousa acusa Alegre de tentar salvar os votos às esquerda do PS, uma clara manifestação de irritação por perceber que as suas possibilidades de crescimento eleitoral estão a ser barradas por Alegre e Louça. Não admira que tenha proibido o líder da CGTP de estar presente no próximo encontro dos alegristas. Ainda por cima as últimas sondagens provam que Louça está a ganhar pontos ao PCP.
Com a degradação contínua do PSD é cada vez mais provável a renovação da maioria absoluta do PS, até porque Cavaco Silva já percebeu que não pode usar o seu poder para corroer Sócrates sob pena de ter que vir a aturar Paulo Portas, o antigo director de “O Independente” e seu inimigo de sempre. Diria mesmo que o PS se arrisca a reforçar a maioria abosulta, o que não seria nada de novo, isso já sucedeu com Cavaco Silva numas eleições em que muitos apostavam na sua derrota.
Assim, a grande luta política de 2009 não vai ser entre Sócrates e Manuela Ferreira Leite ou alguém que a venha a substituir mas sim entre Louça e Jerónimo de Sousa. Se a luta entre PSD e PS é pelo poder, a luta entre Jerónimo de Sousa e Louça é pela vitória de uma ideologia e, por isso mesmo, poderá vir a ser bem mais fratricida.
Não deixa de ser curioso que Manuel Alegre em vez de dividir PS se está a transformar no símbolo da divisão entre o PCP e o BE.