Agora que tanto se fala da maioria ou menor intervenção do Estado, com os liberais em debandada a serem perseguidos ideologicamente com os defensores da intervenção estatal, talvez seja o momento apropriado de caracterizar o nosso capitalismo.
O nosso capitalismo nunca foi grande coisa e se o liberalismo nunca vingou não foi nem pelo apego ao modelo de Estado social, nem pelo peso eleitoral de uma esquerda que vive de utopias, não vingou porque os nossos empresários apreciam mais do que ninguém a intervenção do Estado. O que sucedeu com o BPP é um bom exemplo disso, os seus accionistas, gente de formação liberal, reuniram num hotel da capital para entregar a chave do banco ao ministro das Finanças. Enquanto as coisas estiverem mal no mercado financeiro as suas fortunas poderão contar com o aconchego.
Não deixa de ser curioso o facto de serem os políticos que mais se identificam com o liberalismo económico que agora pedem a cabeça do regulador do mercado bancário acusando-o precisamente de falta de intervenção. Ao mesmo tempo que o Estado salva o dinheiro dos amigos, cavaquistas no BPN e Pinto Balsemão no BPP, o PSD questiona as intervenções estatais, nuns dias queixam-se de intervenção a menos para no dia seguinte ficarem preocupados com intervenção a mais.
Se não há coerência de princípios em relação à intervenção estatal na economia que modelo económico defendem os nossos empresários e os seus partidos? Defendem o modelo que temos tido, um modelo proxeneta em que os grandes capitais vivem à custa da trânsfuga dos impostos através de obras públicas, os bancos conseguem elevados níveis de rentabilidade porque o BdP faz vista grossa às suas actividades, as grandes superfícies usam e abusam da sua posição dominante perante o beneplácito da Autoridade da Concorrência, as empresas de telecomunicações cobram taxas elevadas por maus serviços sem o mais pequeno incómodo por parte da ANACOM.
As empresas mais rentáveis são as que têm consumidores para explorarem perante o beneplácito do Estado, os reguladores existem para dar bons empregos aos que os dirigem e neles trabalham. O sucesso das empresas não depende da sua competitividade, antes pelo contrário, vive da ausência de concorrência no mercado que lhes permite a cada uma explorar os seus consumidores. Em Portugal a ausência de intervenção estatal não deu lugar ao liberalismo económico, instituiu um capitalismo proxeneta.
As cedências feitas em domínios como os direitos laborais ou o Estado Social deram lugar a compensações no funcionamento dos mercados, a ausência de regras mínimas de concorrência permite às nossas empresas bem sucedidas ganhar em preços o que perdem em salários. Nalguns sectores até conseguem ganhar nos salários e nos preços, é o que sucede com a banca que proletarizou os seus empregados, ou com as grandes superfícies quem vivem de exércitos de empregados a ganharem o ordenado mínimo. Nem os nossos ilustres profissionais liberais, gente de grande reputação, resiste à tentação de pagar aos jovens advogados ou arquitectos menos do que pagam às suas empregadas domésticas.
Em Portugal não há liberais, o que mais temos por estas bandas são os defensores do proxenetismo económico, enquanto o país não se desenvolve muitas empresas e uma liderança política e económica serve-se do Estado para assegurar o seu enriquecimento, defende-se a intervenção do Estado quando convém, anula-se esta intervenção quando lhes interessa.
O que nós temos não é uma economia de casino, é uma economia de bordel.