Em poucos dias José Sócrates falou de 2009 como se estivesse em país diferentes, primeiro pareceu dizer que o próximo ano seria de grande abundância graças ao efeito combinado dos aumentos generosos dos vencimentos, da decida dos preços do petróleo e da baixa taxa de inflação, dias depois vem alertar que, afinal, 2009 será uma ano difícil.
Tal como a generalidade dos políticos José Sócrates ainda não percebeu que não é por ele dizer que vai haver fartura que os cidadãos vão sentir a barriga cheia, o mesmo não sucedendo quando espalha pessimismo num país onde esse pessimismo já atingiu todos os limites.
Os políticos sentem-se mal com o facto de o seu discurso pouco influenciar o curso da economia, a decisão dos operadores económicos está atomizada e é influenciada por uma infinidade de factores, comporta-se como um bando de estorninhos cujos movimentos são inesperados. O discurso optimista não põe fim à recessão da mesma forma que o discurso pessimista só poderá ter efeitos deprimentes.
Veja-se o que se passou com o governo de Durão Barroso, começou por uma estratégia que visava deprimir os portugueses, e conseguiu-o com o argumento da tanga. Chegado ao poder precisou da retoma económica para melhorar as suas perspectivas eleitorais e o resultado foi aquele que se viu, apesar de Manuela Ferreira Leite descobrir sinais de retoma em tudo e mais alguma coisa, essa retoma não veio.
Talvez por sentirem que têm cada vez menos poder sobre a economia os governantes tendem a armar-se em psicólogos amadores, como não controlam a economia tentam influenciar a disposição dos eleitores em função do ciclo eleitoral. O resultado é desastroso pois os políticos tendem a impor o bipolarismo, se são oposição tentam espalhar o pessimismo, se são governo tentam promover o pessimismo, a não ser que, como agora sucedeu com Sócrates, percebam que a situação pode piorar e optam pelo discurso pessimista, pinta-se o cenário de negro para mais tarde se pode dizer que se conseguiu muito melhor do que o esperado.
O resultado da actuação destes psicólogos amadores é desastroso, é um povo a viver em depressão colectiva, o que se reflecte em todos os estudos de opinião, quando se avaliam os sentimentos dos portugueses somos os piores em tudo, os mais pessimistas, os mais descrentes, os que menos confiam no país, os que menos acreditam nos seus líderes, os que menos esperam do futuro. Esta tentativa absurda de manipulação dos sentimentos dos eleitores está a levar a que os portugueses já não acreditem em nada, nem mesmo no seu país.
Se já se sabe que os nossos políticos são maus economistas, é tempo de perceberem que ainda são piores psicólogos. Ainda por cima ninguém marcou consulta.