A ditadura do proletariado defendida por Jerónimo de Sousa não suscita dúvidas, seria decalcada daquilo a que o mundo assistiu durante décadas nos países de leste. A dúvida seria saber se as grandes paras do primeiro de Maio se realizariam na Av. da Liberdade ou no Terreiro do Paço e se o dia da Festa do Avante seria ou não feriado nacional.
Já quanto a uma ditadura do proletariado ao gosto da cooperativa de Louçã as dúvidas são muitas, aliás, a primeira dúvida está em saber se os vários cooperantes se entenderiam quanto ao modelo. Os da UDP defenderiam um modelo entre o Cambodja de Pol Pot e a Albânia de Enver Hodja, OS do Louçã fariam um acampamento em Porto Covo para reflectir sobre a questão já que não têm referências históricas, os do grupo de Miguel Porta juntar-se-iam aos do Louçã já que em tempos rejeitaram o modelo soviético.
Uma coisa é certa, as grandes paradas do primeiro de Maio seriam mais divertidas e multicolores, em vez da imensidão de bandeiras vermelhas e os tradicionais retratos de Marx, Engels e Lenine assistiríamos na uma multiplicidades de estrelinhas com pernas em bandeiras de todas as cores. Em vez de se organizarem os manifestantes segundo os grupos profissionais apareceriam ordenados segundo os mais diversos critérios, por exemplo, parte da manifestação seria dedicada à liberdade sexual, teríamos uma boa parte da manifestação ocupada pelos diversos tipos de opções, desde os gay, símbolo da revolução, aos hetero, símbolo do conservadorismo.
A liderança da revolução deixaria de caber em exclusivo ao proletariado, símbolo das virtudes revolucionárias, passaríamos a ver os rapazinhos da McKenzie e da Delloite e as respectivas namoradas na fila da frente a ouvir embevecidos as homilias de Francisco Louçã. Provavelmente teríamos homilias aos dias pares com Louçã a falar para assembleias de fazer parar o trânsito, estando os dias pares reservados para os discursos de Fazenda destinado à beldades com pêlo no sovaco.
É difícil de imaginar o que seria a ditadura do proletariado da esquerda moderna, sem ideologia assumida, sem projecto político, sem propostas para além de um horizonte de duas semanas, sem referências históricas assumidas, o regime defendido por Louçã e Fazenda é uma incógnita, quase aposto que nem mesmo Manuela Alegre, que deve ser quem melhor os conhece, sabe muito bem o que eles querem.