quarta-feira, julho 29, 2009

Francisco Louçã versus Joana Amaral Dias

No dia seguinte á divulgação das listas de deputados do PS deu-se a estranha coincidência da denúncia de Louçã de que o PS teria abordado Joana Amaral Dias numa tentativa de a “roubar” ao BE. Desde logo há a estranha coincidência do dia em que Louçã fez o espalhafato assim como também se estranha que Louçã não tenha feito qualquer comentário à presença de Miguel Vale de Almeida nas listas do PS. Isto é, Louçã ficou muito incomodado porque uma militante que foi apagada ter sido convidada enquanto não se incomodou com a perda de uma personalidade com grande notoriedade.

É bom recordar que não é a primeira vez que Joana Amaral Dias poderá ter sido contactada por gente ligada ao PS ou próxima do PS, só assim se compreende que tenha sido mandatária da candidatura presidencial de Mário Soares. Também é bom recordar que muita gente estranhou que o seu nome tenha deixado de fazer parte da liderança do BE. Como se tudo isto não bastasse, foram públicas as críticas ao vídeo lançado pelo BE aquando do seu congresso porque seguindo a moda estalinista tinha feito desaparecer Joana Amaral Dias.

Então, o que preocupa Louçã?

A única pessoa prejudicada pela falsa indignação de Louçã é a própria Joana Amaral Dias. É evidente que onde há fumo deverá haver fogo, Joana Amaral Dias poderá ter tido alguma conversa com o “inimigo” e Louçã soube disso, aproveitando-se desse facto para tirar um coelho da cartola. Não fez a denúncia no momento, esperando pela altura mais adequada, não permitiu que fosse Joana Amaral Dias, fê-lo com grande pompa e circunstância contando com o silêncio da militante do BE, como se esta não estivesse autorizada a falar em público.

A única pessoa prejudicada por este gesto de Louçã é a própria Joana Amaral Dias, para os do Bloco anda a “dormir” com o inimigo, para os do PS é alguém com quem não se pode falar ao almoço, lembrando os famosos magistrados que foram a correr fazer queixinhas ao senhor Palma. Se Joana Amaral Dias ficar no BE ou permanece marginalizada ou leva um lugar de deputada como prémio pelo gesto, se sair do BE será considerada uma traidora, para além de merecer a desconfiança dos que julgavam poder tomar um café com ela.

Esta situação não tem nada de inédito, foi com expedientes destes que muitos militantes comunistas foram condenados ao ostracismo ao longo da história do movimento comunista. Sempre que alguém é suspeito de não viver para a idolatrar o chefe e ganha vida própria é eliminado de forma a deixar de ser útil, não basta corrigir o militante desavindo, é preciso eliminá-lo retirando-lhe a credibilidade.

Desde há muito que o culto da personalidade de Francisco Loução, um líder arrogante, complexado e vaidoso, é promovida no Bloco de Esquerda. É o maior, é um economista reconhecido internacionalmente, mais um pouco e ainda ganha uns prémios da química como os que em tempos eram atribuídos a Elena Ceausescu. Como todos os grandes líderes comunistas ou candidatos a esse estatuto Louçã é idolatrado pelos seus devotos, é promovido a um estatuto intelectual que transformam tudo o que diz em mandamento religioso, que tornam as suas propostas poções mágicas.

Num movimento comunista, mesmo que disfarçado de uma mistura entre o Enver Hodja e os U2, o líder é o líder, é como um eucalipto, à sua volta nada nasce ou poder nascer para lhe fazer sombra. É por isso que todos os militantes do BE que mais captam a simpatia popular vão sendo apagados, retirados da ribalta, ao lado de Louçã só é permitida a presença de cinzentões. Há muito que Joana Amaral Dias tem vindo a desaparecer da primeira fila, no BE só Louçã pode pensar, todos os outros, sejam a Joana Amaral Dias ou o Zé, estão lá para o promover, idolatrar e fazer o que ele manda.