Nunca como agora a esquerda conservadora esteve tão de acordo com os grupos corporativos, da mesma forma que nunca a direita afirmou de forma tão clara o acordo com as suas exigências. Mário Nogueira recebe o PSD, o Presidente da República recebe o senhor Palma, a CNA reveza-se com a CAP nas manifestações, todos estão unidos na preservação do Portugal anterior à globalização, do Portugal onde os pobres eram felizes.
Se considerarmos o que se passou nos últimos dois anos em Portugal poderemos imaginar o governo que seria do agrado de todos, do Paulo ao Miguel Portas, de Louçã a Ferreira Leite, de Cavaco Silva ao Mário Nogueira. Aqui fica a sugestão.
Ministério das Finanças: idolatrado pelos seus vastos estudos de economia Louçã seria o ministro ideal, até porque durante a legislatura encontrou soluções para tudo, melhor do que ele só mesmo Jesus Cristo por causa do seu milagre dos pães. Sempre que se identifica um problema Louçã dá a solução, se há desemprego dão-se subsídios, desde os que ficaram desempregados aos que querem trabalhar. Se há falta de receitas fiscais o combate à evasão resolve tudo, se há lucros estes devem ser tributados até se transformarem em prejuízos. Louçã não só deveria ser o ministro das Finanças como o ministério deveria passar a designar-se por tipografia do Terreiro do Paço, em vez de decretos o ministro produziria notas de encomendas de notas de banco.
Para assegurar a paz na escola pública e a felicidade de todos os funcionários que nelas trabalhem Mário Nogueira deveria ser o escolhido para ministro. Com ele Portugal conseguiria o melhor ensino da Europa graças à felicidade e pleno emprego dos professores do Estado.
O senhor Palma daria um excelente ministro da justiça, até porque graças às excelentes relações com o Presidente da República seria fundamental para a colaboração estratégica entre Belém e São Bento, num domínio fundamental para a estabilidade do regime. O caso Freeport seria finalmente investigado com os recursos adequados, mesmo que o caso BPN, uma coisa de menor importância, ficasse para as calendas gregas.
Para as Obras Públicas a escola obrigatória seria de Pedro Santana Lopes, com ele o TGV e o novo aeroporto eram esquecidos e no lugar destes projectos os portugueses poderiam viajar de túnel entre Portimão e Casablanca ou entre Viana de Castelo e Londres.
O Bernardino Soares daria um excelente ministro dos Negócios Estrangeiros, as Farc passariam a contar com uma delegação permanente em Lisboa, Portugal tornar-se-ia um parceiro estratégico da Coreia do Norte e retiraria os exércitos portugueses do Afeganistão, enviando-os para as Ilhas Selvagens onde os espanhóis têm vindo a fazer voos rasantes sobre as focas.
Portugal seria feliz e, com gripe ou sem gripe, Manuela Ferreira Leite seria a escolha óbvia de Cavaco Silva para primeira-ministra.