segunda-feira, julho 13, 2009

Os partidos portugueses: O Bloco de Esquerda (1)

Se eu fosse empresário e os meus produtos tivessem beneficiado da publicidade mais subliminar ou descarada de que beneficiou o Bloco o Bloco de Esquerda estaria a gora a disputar as posições de Belmiro de Azevedo e de Américo Amorim na lista de fortunas da Forbes. O BE não só beneficiou da adesão de muitos jovens jornalistas que o elegeram como alternativa aos partidos tradicionais, como foi levado ao colo pelo PSD do tempo de Durão Barroso, quando o agora presidente da Comissão preferia dar todo o protagonismo da oposição a Louçã, ignorando o PCP pelo seu peso sindical e o PS por ser a alternativa de governo.

Quase todos os dias a comunicação social apresenta as homilias de Louçã como o contraponto às posições de todos os outros partidos, o PS aparece a comentar o PSD, o PSD a comentar o PS, o PCP a comentar as políticas governamentais e o Louça a comentar tudo e todos, incluindo as divergências internas do PS. Louçã é apresentado como um Diácono Remédios da política portuguesa, mas numa versão positiva. Só isso explica que um partido cujo programa são frases soltas de ocasião e sem qualquer organização, dirigido por três personalidades devidamente rodeadas de umas raparigas jeitosas tenha ultrapassado nas urnas um PCP que tem mais poder de organização num único centro de trabalho do que em todo o Bloco de Esquerda.

Como é que um partido que não é capaz de organizar um piquenique no Parque Eduardo VII vence nas urnas um PCP capaz de mobilizar 80 mil pessoas numa manifestação e de organizar o maior evento político do país?

A receita é simples, os líderes da extrema-esquerda trocaram os seus programas por uma nova marca branca da política. O vermelho é a cor do símbolo mas só aparece nos documentos oficiais, o símbolo é um produto de marketing, da bandeira comunista ficou a estrela, símbolo do internacionalismo proletário, mas mesmo essa foi estilizada, deixou de ser uma estrela. As bandeiras vermelhas deram lugar a todas as cores, uma manifestação do Bloco de esquerda parece-se mais com um anúncio publicitário da Vodafone do que com uma manifestação de extrema-esquerda, o vermelho deu lugar ao multicolor, há cores para todos os gostos.

Os líderes da extrema-esquerda deixaram de ter voz grossa, de usar bigode e vestir roupas que se identificam com o proletariado. Em vez de roupas de gente pobre ou a imitar gente pobre usam-se camisas de marca que davam para alimentar uma família operária durante meio mês, em vez das meias maratonas proletárias Louçã prefere o perfume da classe média do Holmes Place da Av. dos Defensores de Chaves. O Trotsky que chefiou o Exército vermelho e que mais tarde foi morto por uma machadada encomendada por Estaline deixou de fazer companhia a Louçã, Estaline deixou de ser exibido como modelo das virtudes marxistas-leninistas para Fazenda e outros herdeiros da UDP e do PCP(R).

O passado é demasiado incómodo, tem demasiados esqueletos, para que o BE tenha referências no passado, ao contrário do que sucede com o PCP que carrega permanentemente um armário às costas. Também não tem futuro porque não convém dizer aos putos da classe média qual o modelo de sociedade defendido pelos velhos trotskistas, estalinistas e afins. O BE apresenta-se sem referência, sem programa, sem modelo de sociedade, em vez de um projecto político prefere apresentar-se como a esquerda moderna, em vez de exibir as suas glórias do passado, como a Albânia de Enver Hodja ou o Cambodja dos Khmers Vermelhos, prefere temas fracturantes como o casamento gay ou a proibição de despedimentos em empresas com lucros.

O Bloco de Esquerda não diz o que os seus dirigentes pensam, em cada momento diz o que os seus alvos eleitorais querem ouvir, as suas posições políticas são seleccionadas como se de um produto alimentar se tratasse, são colocadas no mercado depois de devidamente degustadas por um painel de consumidores representativos. E ao mesmo tempo que o BE vai conquistando a simpatia de jornalistas desejosos de protagonismo e de jovens da classe média sem qualquer memória histórica o Francisco Louçã vai assumindo o seu papel de Virgem Maria da política portuguesa, papel que desempenha tão bem que até um orgulhoso Manuel Alegre aceitou o papel de crente mariano na esperança de chegar a Belém.

PS: na terça-feira o post será dedicado ao PS, na quarta-feira ao PCP, na quinta-feira ao PSD e na sexta-feira ao “PRD”.