Concluídas as eleições legislativas serão poucos os que estão interessados em saber se o candidato A ou B foi eleito, a informação resume-se a saber quem ganhou, quem vai ser primeiro-ministro, o número de deputados do partido que vai governar e o número de deputados dos partidos da oposição. Pouco importa se os deputados do PCP assinaram uma carta de despedimento, se o deputado do PSD ou do PS eleito por Bragança nem sabe onde essa cidade fica. Ninguém quer saber sequer se os deputados dos verdes representam eleitores preocupados com as questões ambientais ou se estão no Parlamento disfarçados de melancias só para que o PCP faça uma fraude às regras parlamentares e tenha dois grupos parlamentares para poder dispor do dobro do tempo de usa das palavras que é atribuído a cada partido. O que importa é saber quem é o primeiro-ministro.
E por aquilo que se viu nos dias seguintes às europeias os deputados nem sequer contam na hora de avaliar a legitimidade do primeiro-ministro, basta uma eleição para uma junta de freguesia onde o partido do governo perca as eleições para alguém questionar a legitimidade do governo. Às vezes nem isso, bastam as sondagens para aferir se um primeiro-ministro está ou não a mais.
Há quem diga que a preocupação com a escolha do primeiro-ministro é exclusiva dos partidos a que agora se diz pertencerem ao “arco do poder”, os partidos da esquerda conservadora lutam por ideais enquanto os partidos da direita, todos os outros, disputam o poder. Até parece ser verdade pois nem Louçã, nem Jerónimo de Sousa são candidatos a primeiro-ministro, aliás, segundo os seus valores democráticos há formas mais expeditas de tomar o poder.
A verdade é que a esquerda conservadora também quer participar na escolha do primeiro-ministro, basta ler alguns comentários aqui deixados para se perceber quanto admiram Manuela Ferreira Leite. A estratégia do BE e do PCP há muito que é ajudar a direita a chegar ao poder. Em primeiro lugar porque o ódio que nutrem pelas correntes social-democratas é antiga, tão antiga quanto o marxismo-leninismo. Em segundo lugar porque a esquerda conservadora sempre preferiu a direita no poder, só assim se sentem à vontade no seu papel de lutadores anti-capitalistas, a extrema-esquerda sempre se alimentou da direita e quanto mais o governo estiver à direita melhor.
O que está em causa nas próximas eleições é a escolha do primeiro-ministro, uns preferem Manuela Ferreira Leite, outros optam por Sócrates. A direita e a esquerda conservadora há muito que fizeram a sua escolha, por este ou por aquele motivo, preferem Manuela Ferreira Leite. Paulo Portas, Louçã e Jerónimo de Sousa estão juntos ainda que por motivos diferentes, o primeiro porque sonha com o cargo de ministro, os outros porque entendem que o normal, porque se ajusta à sua estratégia, é a direita governar.