De vez em quando há um qualquer analista financeiro que sugere a Portugal, bem como à Irlanda, Espanha e Grécia, o abandono do euro como solução para as dificuldades económicas argumentando que o recurso à desvalorização da moeda asseguraria a competitividade externa da economia.
A solução é tentadora até porque permitira ao país manter a preguiça em responder aos grandes desafios como a aposta séria na educação, o corte nos excessos dos serviços público, a reforma de um sistema fiscal cada vez mais opaco e injusto, a reforma do mercado laboral. Cada vez que as exportações baixassem desvalorizava-se o escudo e ao mesmo tempo desvalorizava-se o valor acrescentado pelas economias portuguesas, isto é, promovia-se a desvalorização do trabalho dos portugueses.
Só que as desvalorizações não passariam de um paliativo, graças às amplas liberdades de circulação da EU Portugal continuaria a ver as suas poupanças rumarem às off-shore ou aos bancos alemães, os seus melhores quadros a serem comprados pelas empresas europeias e a gastar uma boa parte dos seus recursos em bens de luxo produzidos na Europa.
Há mesmo por cá quem sugira que no passado as desvalorizações permitiram o reequilíbrio das contas externas portuguesas, mas ignoram ou omitem que quando Portugal recorreu às desvalorizações contava com três instrumentos poderosos, a circulação de capitais não era livre o que condicionava a exportação de divisas, a importação de muitos bens de consumo, incluindo bens de consumo alimentar, estava contingentada e a importação de mercadorias europeias estava sujeita à aplicação de direitos aduaneiros.
As desvalorizações não seriam suficientes para resolver os problemas económicos que o país atravessa, poderiam aumentar a competitividade de algumas empresas, mas tornaria mais cara a modernização do país, desvalorizaria a produção das empresas que apostaram na inovação como solução para aumentar a competitividade e não impediria a sangria dos recursos por via da exportação de capitais e da importação.
Era uma boa solução para os países ricos do euro que deixariam de incomodar com a situação da economia portuguesa ao mesmo tempo que continuariam a beneficiar das suas compras crescentes de bens de luxo, o modelo económico português alimentado e alimentador de desigualdades sociais é um excelente negócio para os vendedores de bens de luxo europeus.
Se a solução para os problemas económicos é abandonar o euro e deixar o país entregue à sua sorte é evidente que isso só será solução se Portugal puder complementar a política monetária com restrições à circulação de bens e de capitais e isso implica o abandono da EU. Se a Europa prosseguir neste modelo de ausência de solidariedade e condicionada pelos intersses estratégicos de um ou dois países talvez seja essa a solução, o actual modelo europeu é bem mais penalizador para Portugal do que aquele a que se aderiu em 1985.