Um país que olha com indiferença umas eleições presidenciais num momento em que está à beira do precipício é um país que não está lá em muito bom estado, nunca desde a primeira eleição democrática de um Presidente da República estas eleições terão sido tão importantes. O país carece de norte, de esperança, de ânimo, de confiança, de futuro e os partidos propuseram-lhe com candidatos presidenciais três autênticas pilecas.
O grande debate político entre os dois candidatos presidenciais é miserável, um diz que é melhor do que o outro porque sabe quantos cantos tem o Lusíadas, não sabe quantos cantos quem um pentágono mas acha que resolve os problemas do país a declamar Camões. O outro faz prova do seu passado anti-fascista queixando-se que o regime lhe estragou a lua de mel mandando-o para Moçambique onde correu grandes riscos a subir a coqueiros. Isto não é um debate político, é uma discussão entre dois candidatos a presidir à comissão de utentes de um lar de doentes da doença de Alzheimer!
À direita optou-se pelo conformismo, Paulo Portas sempre detestou Cavaco Silva e vice-versa, mas agora ambos se esqueceram do que o primeiro fez ao segundo nos tempos em que era director do Independente. No PSD ainda não encontrei um único militante que em privado se mostre um admirador de Cavaco Silva, uma boa parte nem o podem ver, mas em público é aquilo a que temos assistido.
À esquerda o espectáculo é igualmente triste, Manuel Alegre dedicou cinco anos a tentar vingar-se de Sócrates e a impedir a possibilidade de aparecer uma candidatura credível, impôs-se ao PS com o apoio do Bloco de Esquerda e mesmo sabendo que a sua candidatura só servirá para estender o tapete vermelho a Cavaco Silva não resistiu à vaidade. Só não se percebe se Sócrates apoia convictamente Manuel Alegre ou se apenas está fazendo o frete de o apoiar, preferindo Cavaco como interlocutor em Belém.
Ainda pensei em optar por um voto de protesto votando no candidato do PCP, mas o seu debate com Fernando Nobre revelou que Francisco Lopes é bem pior do que a encomenda, no tempo do i-pod ainda nos tenta dar música com um gravador dos tempos em que tentavam convencer-nos que as máquinas fotográficas russas eram uma maravilha. Procurou umas citações de discursos de Fernando Nobre, ficou as datas como se fosse um calendário e foi para o debate com o objectivo de fuzilar o adversário com projecteis de propaganda que já enjoa.
Depois desta primeira ronda de debate entre candidatos presidenciais o ponto positivo foi para Fernando Nobre, o candidato Manuel Alegre que se cuide, agora que é um candidato do sistema arrisca-se a dar ao adversário a vantagem que teve frente a Mário Soares.