terça-feira, dezembro 14, 2010

Um país sempre em obras

Portugal é o país onde mais se fala de reformas, onde são feitas mais reformas e onde tudo está por reformar, reforma-se por se reformar, reforma-se porque é bonito reformar, reforma-se a pedido da EU, reforma-se por sugestão do FMI, reforma-se tudo e mais alguma coisa. Até se reforma numa legislatura para se “desreformar” na legislatura seguinte, como sucedeu no ensino ou na saúde.

O país gasta energia política demais com tantas reformas incompletas, pouco corajosas e mal conduzidas. Sócrates promoveu reformas no ensino e recuou, promoveu reformas na saúde e substituiu um ministro reformista por uma ministra que mais parece uma reformada, promoveu a reforma do PRACE e deixou quase tudo na mesma. Um bom exemplo do PRACE foi o que sucedeu no ministério onde está o tal que é o 16.º melhor ministro das Finanças, reestruturam-se as Alfândegas e deixou-se a DGCI e o seu modelo organizacional herdado do século XIX, agora que se quer mostrar mais serviço com mais reformas extinguem as Alfândegas e deixam intacta a DGCI onde há centenas de serviços de finanças cuja existência já não faz sentido.

Os portugueses são sujeitos a sacrifícios sucessivos em nome de reformas feitas com atraso, mal feitas e incompletas, ou de reformas que nem chegam a ser implementadas, recordo-me, por exemplo, de uma intenção de Cavaco Silva de reduzir o número de funcionários públicos para o que criou um quadro de excedentes para o qual muitos funcionários foram indicados, no final tudo ficou na mesma.

Temos uma constituição que nada tem que ver com a realidade dos dias de hoje mas é mantida por preconceitos de uma geração que gosta de recordar um Abril que já não existe nem faz sentido. Sabemos que o SNS é inviável a prazo com o princípio da gratuitidade mas adiamos a solução por maiores que sejam os buracos financeiros do sector. Sabemos que os transportes públicos são inviáveis a prazo com a actual política de preços mas continuamos a suportar através dos impostos os custos crescentes do sector. Não precisamos de tantas auto-estradas nem temos dinheiro para as construir, mas continuamos a aumentar a rede e a manter as SCUT.

O país reforma-se a torto e a direito mas no fim nem se reformou nada e ainda se criaram problemas que conduzirem à necessidade de mais reformas a prazo. As reformas acabam por não reformar nada pois quando são implementadas são-no de forma incompetente, pouco ambiciosa e sem considerar as novas realidades. Acabamos por ser o país sempre em obras, onde entra água por todos os cantos.