O mesmo país que num dia investe nas Novas Oportunidades, que promove um MBA com ambições de ter dimensão internacional, que diz apostar na inovação, vê todos os dias saírem numerosos jovens qualificados para o estrangeiro, alguns deles os melhores alunos das nossas universidades. E se os jovens equacionam cada vez mais abandonar o país outros são atingidos fortemente nos seus rendimentos em nome de uma austeridade com tiques bloquistas.
Portugal tinha duas incubadoras de quadros, as universidades formavam jovens e a Administração Pública dava a muitos destes jovens a experiência que os tornava quadros apetecíveis para o sector privado. Agora as universidades formam jovens para emigrarem e muitos dos altos quadros da Administração Pública equacionam a hipótese de abandonar a Função Pública onde são cada vez pior remunerados e humilhados por um bando de jovens boys vindos dos escritórios de advogados da capital especializados na sua maior parte em gestão de influências. E enquanto o país vê uma boa parte dos quadros que formou irem para o estrangeiro, a ministra da Educação orgulha-se dos diplomas das Novas Oportunidades que vai distribuindo.
É evidente que muitos destes jovens nunca ficariam em Portugal, dificilmente algum deles trocaria um lugar numa grande universidade americana onde se pode ganhar 200 mil dólares no início da carreira por um vencimento de professor numa universidade portuguesa onde se ganha menos do que se paga na secretaria de Estado a uma jovem licenciada em direito amiga do detentor da pasta, ainda por cima correndo o risco de sofrer cortes salariais para compensar a incompetência alheia.
No calor do debate político e num ambiente de medo colectivo por causa da ameaça do papão FMI ninguém pensa nas consequência de uma política económica gerida em função de objectivos de visão curta e pressionada pelas oscilações dos indicadores financeiros. Neste ambiente populista o governo tenta transformar decisões miseráveis em políticas exemplares, enquanto a mesma oposição que dantes se divertia a aprovar mais despesas agora acobarda-se e engole todas as medidas que signifiquem redução da despesa ou aumento da receita.
Só que passado este período de irracionalidade colectiva o país regressará a um período de sanidade mental e nessa ocasião serão evidentes os prejuízos provocados pelo oportunismo com que se tentou compensar o desespero colectivo. O país terá perdido jovens qualificados e promissores, o Estado terá assistido à aposentação de uma boa parte dos seus quadros superiores e à desmotivação dos restantes. Nessa ocasião teremos de nos interrogar sobre como fixar os melhores quadros no país, pondo fim à contínua sangria da inteligência nacional.
Que apoio e oportunidades têm os jovens que querem lançar iniciativas empresarias, quanto investe o país em capital de risco, que medidas fiscais foram adoptadas para criar um ambiente favorável à sobrevivência de novas empresas, que apoios dá o Estado a novas empresas tecnológicas criadas por jovens universitários? É fácil promover grandes obras públicas, construir muitos hospitais e criar emprego fácil na Administração Pública, para depois adoptar medidas de austeridade porque a economia não cresce e é preciso pagar os crescentes apoios sociais. O difícil é deixar de investir em monos e apostar na produção, na criatividade empresarial, em novos projectos industriais, na diversificação da produção tecnológica, isto não dá votos nem cria falso emprego conveniente em épocas eleitorais.