A característica comum a quase todas as medidas que o governo vai adoptando pontualmente com uns meses ou anos de atraso é o facto de na sua maioria já deveriam ter sido adoptadas. Se, por exemplo, o governo tivesse controlado a execução fiscal tal como agora promete é muito provável que algumas das medidas de austeridade mais gravosas que teve de adoptar não teriam sido necessárias.
Infelizmente foi necessário a economia estar à beira do colapso para se ter coragem para reduzir a infinidade de empecilhos burocráticos à actividade das empresas ou para se levar a sério um controlo rigoroso da forma como é gasto o dinheiro dos contribuintes.
Pela forma como são adoptadas estas medidas parece que a economia portuguesa vivia em abundância e que a crise que enfrenta se deve em exclusivo à crise internacional, ficamos com a impressão de que só agora é que precisamos de exportar e de controlar a despesa pública.
O resultado destas medidas é quase nulo, teriam sido positivas se tivessem impedido a deslocalização de muitas empresas que já partiram, se tivessem atraído os investidores que já desistiram, se tivessem criado condições para tranquilizarem os mercados antes de a situação económica e financeira ter estimulado a especulação. Este tipo de medidas não tem qualquer impacto imediato e não é por serem às dezenas que ganham consistência.
O país carece de uma governação criteriosa desde a Presidência da República à junta de freguesia, deve poupar onde se pode poupar, devem ser encontradas formas de financiamento e modelos de gestão económica de sectores como a saúde, os transportes e as grandes obras públicas, devem fazer-se as grandes opções do investimento do Estado e da própria despesa pública em função do seu impacto económico e não exclusivamente em função dos resultados eleitorais.