1. A semana foi agitada pelas preocupações sociais de Carlos César que decidiu recompensar alguns funcionários públicos dos Açores pelos cortes previstos no OE. Sócrates assobiou para o ar, Cavaco criticou, o ministério das Finanças concordou com Cavaco e perante a indignação colectiva Sócrates acabou por alinhar o discurso com o Presidente da República. Quem ficou a apoiar Carlos César foi o desastrado candidato presidencial Manuel Alegre o que se entende perfeitamente, o presidente do governo regional dos Açores foi dos poucos dirigentes a ficarem animados com a sua candidatura.
2. O parlamento vai substituir-se à Torre do Tombo e vai aprovar mais uma comissão de inquérito ao acidente que vitimou Sá Carneiro. O país vai mais uma vez ficar suspenso de aturadas investigações às velhas peças do Cessna. Alguma razão tem Ramalho Eanes, não propõe que se investigue na Torre do Tombo mas sugere que quando os documentos confidenciais norte-americanos forem desclassificados talvez se saiba mais qualquer coisita, até pode ser que a Wikileaks se antecipe aos prazos.
3. A Wikileaks ainda não revelou quem mandou o Cessna abaixo mas já embrulhou muita gente, começando pelos lideres da Frelimo que ficaram com o carimbo de corrompidos pelo narco-tráfico. Começo a ter a sensação de que anda por aí muita gente com o rabo apertadinho com receio das coisas que os americanos sabem, estou a pensar em políticos corruptos, a narco-traficantes e principalmente com o negócio da invasão do Iraque.
4. O ministro Teixeira dos Santos teve esta semana o seu momento de glória ao ver o seu brilhantismo ser reconhecido pelo Financial Times. Deixou de ser o prior ministro das Finanças de entre 19 países europeus para passar a ser o 16.º melhor, isto é, deixou de ser o pior, agora já só é o quarto pior. Resta saber se foi o nosso ministro, o tal que não acerta numa conta, a melhorar ou se foram os outros a piorar.
5. A oposição foi surpreendida com o relatório PISA, da OCDE; que conclui que Portugal teve melhorias notáveis na qualidade do ensino, atingindo a média dos países da OCDE. O país assistiu a um chorrilho de disparates de muitos políticos ligados ao ensino, bem como de alguns sindicalistas e de professores que a blogosfera tornou famosos. O próprio Cavaco Silva, sempre pronto para comentar as desgraças que acontecem, parece estar com dificuldades de digestão pois não fez qualquer comentário sobre o assunto. Quem festejou foi José Sócrates, ainda que tenha corrido Maria de Lurdes Rodrigues para a Fundação Luso-Americana e pagou 400 milhões de euros para retroceder nalgumas das reformas de que agora se gaba.
6. Sócrates diz que não faz qualquer remodelação, o seu governo é como a Toyota veio para ficar, até já há quem diga que alguns dos seus ministros toyotas não passavam na inspecção periódica. Mas Sócrates é capaz de ter alguma razão, quando no governo anterior substituiu os ministros da Saúde e da Economia a mudança foi para muito melhor, o mesmo sucedendo com a maioria das mudanças feitas depois das eleições legislativas.
7. Ao fim destes anos todos Cavaco Silva, que até foi primeiro-ministro durante dez anos, diz que devemos sentir vergonha por haver gente com fome em Portugal. Cavaco tem toda a razão, enquanto uns ganham pequenas fortunas em negócios manhosos de acções com preços fixados por um tal Oliveira e Costa outros passam fome. Passam fome porque não têm emprego, passam fome porque não acedem aos negócios do BPN, passam fome para pagar impostos por causa do rombo nas contas públicas provocados pelo buraco do BPN. E os que ganharam dinheiro fácil, os que eram professores da Nova e se baldavam para irem dar aulas na Católica, os que têm luxuosas vivendas no Algarve não têm nenhum motivo para sentirem vergonha, vergonha pela forma como enriqueceram e vergonha porque muito desse enriquecimento fácil é conseguido à custa da fome que os outros passam? Pior ainda do que a fome de alimentos de muitos portugueses é a fome de honestidade, de princípios, de justiça social, porque dessa fome passam quase todos os portugueses e essa mesma fome torna a fome de alimentos ainda mais dolorosa porque suportada e alimentada com a consciência da injustiça de que se é vítima.