quinta-feira, dezembro 30, 2010

Umas no cravo e outras na ferradura

FOTO JUMENTO

Cogumelo da Quinta das Conchas

JUMENTO DO DIA

Cavaco Silva

No debate enter Cavaco Silva e Defensor de Moura ficou a saber-se que a Presidência da República "sugeriu" à autarquia de Viana de Castelo a fadista e mandatária da campanha presidencial Kátia Guerreiro por uma quantia superior a 90.000 euros.

Graças a este pequeno incidente percebeu-se que Cavaco gosta que as autarquias que visita paguem pequenos luxos desnecessários e que as aproveita para criar mercado para alguns "artistas". Esperemos agora que a Presidência da República explique os termos em que contratou a fadista, a que procedimento recorreu e, se possível, divulgando os procedimentos através dos quais foi fixado o preço.

«Defensor Moura havia denunciado a pressão da Presidência para realizar a cerimónia em determinadas condições. Ontem, insistiu através de um esclarecimento enviado às redacções: "Não foi aceite a proposta da autarquia de a realizar no magnífico Teatro Municipal e o arquitecto da equipa do PR fez um projecto de decoração interior de um pavilhão de exposições, que constituiu uma verdadeira tenda gigante e que orçou em 165 mil euros, para um acto de apenas uma hora e meia!"

O memorando assinala ainda a realização de dois concertos. Um oferecido pelo presidente ao Corpo Diplomático e outro público oferecido pela câmara. Sobre este, surge a exigência de ser "semelhante" ao primeiro: "A câmara deverá oferecer um concerto à população na Praça da Liberdade, cuja programação será igual (ou, na medida do possível, semelhante) ao programa do concerto que o Presidente oferece ao Corpo Diplomático." No seu esclarecimento, Defensor Moura reafirmou a "proposta feita à câmara municipal pela Presidência da República para se contratar a fadista, que tinha sido mandatária da juventude na candidatura de Cavaco Silva, para um espectáculo público em Viana do Castelo".

Sugestão que o candidato afirma ter recusado: "[A câmara] Realizou um espectáculo, de não menor qualidade, com artistas vianenses, que custou apenas seis mil e quinhentos euros." Mas a agência da fadista Kátia Guerreiro contestou as acusações, garantindo ter recebido cheque de Belém e não de Viana do Castelo. "É importante salientar ainda que todas as despesas relativas a essa actuação de Kátia Guerreiro nas comemorações do Dia de Portugal foram integralmente suportadas pela Presidência e não pela autarquia, como alegou Defensor de Moura ao afirmar que não houve comparticipação de custos por parte da Presidência."» [Público]

A PRATELEIRA QUE NOS MOSTRA BEM

«A expressão "ir para a prateleira" é, chapado, o Portugal ineficaz. Um profissional faz carreira, chega a um patamar e um dia sabe que já não o querem mais ali. Seja porque ele atingiu o seu patamar de Peter (não exerce bem o cargo) ou porque é vítima de injustiça - não interessa, o facto é que quem de direito o quer demitir. O normal seria mandarem-no para cargo compatível com o que ele sabe fazer ou despedirem-no. Em Portugal há uma terceira via: a prateleira. A empresa, ou a repartição, poupa um pouco nos gastos, mas fica também com um peso absolutamente morto. O ex-chefe de qualquer coisa passa a ser o mais inútil dos empregados, não faz nada.

Nem de conta. É o pegar de cernelha aplicado aos nossos recursos humanos. Pegar a relação pelos cornos seria cortá-la (a relação), pagando o que a lei estipula que se pague no despedimento, ou, mais difícil e inteligente, seria patrão e empregado (já que se este subiu na carreira algum mérito há-de ter) encontrarem um novo posto, embora mais baixo, para o demitido. Mas esta última solução raramente é praticada. Porque o patrão não acredita na boa vontade do empregado rebaixado de posto ou porque o empregado não aceita ir de cavalo para burro. Daí preferir ir para a prateleira - de cavalo para carcaça de cavalo. René Debré foi primeiro-ministro antes de ser, por várias vezes, ministro. Em França não é caso único, mas por cá seria impensável. Dar a volta por cima por vezes não se consegue senão a meia altura, e quando é assim revela até uma ainda maior capacidade de combater a adversidade. Quando Gonçalo M. Tavares, director do DN por um dia, me pediu para fazer esta crónica sobre um assunto intemporal, lembrei-me logo de escrever sobre o "ir para a prateleira". Podia pensar-se que escrevo esta crónica para que, depois de amanhã, caso ele seja convidado para cronista (ou para entrevistado ou para dar uma simples opinião), não recuse porque já foi nesta casa "sr. Director" e não aceite nada abaixo disso. Mas, na verdade, escrevo sobre "ir para a prateleira" porque é dos mais imprestáveis hábitos nacionais, de hoje, ontem e amanhã. Intemporal, como me foi pedido.» [DN]

Parecer:

Por Ferreira Fernandes.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

O ESTADO PRECISA DE 20.000 MILHÕES DE EUROS

« IGCP indica em comunicado que o programa de financiamento para 2011 já foi aprovado pela tutela e que prevê necessidades de financiamento em torno dos 20 mil milhões de euros. O financiamento líquido do Estado deverá mais uma vez concentrar-se na emissão de Obrigações do Tesouro (dívida a médio e longo prazo), prevendo o instituto que a emissão bruta deste tipo de títulos se situe entre 18 e 20 mil milhões de euros.

Para tal, deverão ser lançadas "uma ou duas novas séries de OT", cujas datas e maturidades ainda não são conhecidas, num montante mínimo de 3 mil milhões de euros (com posteriores reaberturas ao longo do ano), estando ainda previsto a reabertura de outras séries emitidas em anos anteriores "com o objetivo de aumentar a sua dimensão e liquidez". O IGCP refere que estas séries a reabrir poderão ter um montante máximo situado nos 10 mil milhões de euros.» [DN]

Parecer:

É muito euro.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se a Teixeira dos Santos que taxa de juro espera pagar.»

TAXAS DA SAÚDE "ULTRAPASSAM FRONTEIRA DA RAZOABILIDADE"

«O socialista António Arnaut, fundador do Serviço Nacional de Saúde (SNS), considera que o Governo "ultrapassou as fronteiras da razoabilidade" ao limitar a isenção das taxas moderadoras aos pensionistas e desempregados com rendimentos abaixo do salário mínimo.

"Quando um Governo aumenta as taxas moderadoras é porque já ultrapassou as fronteiras da razoabilidade", disse hoje António Arnaut à "Lusa".» [DE]

Parecer:

E os impostos sobe os que pagam tudo não ultrapassaram a fronteira da razoabilidade.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se a António Arnaut.»

CANDIDATO A NOBEL ABUSOU DE UMA CRIANÇA HÁ 40 ANOS

«O sacerdote católico e sociólogo marxista belga François Houtart, figura-chave do movimento "altermundialista", confessou hoje ter abusado de um menor há 40 anos e pediu a suspensão da campanha pela sua candidatura a Nobel da Paz em 2011.

Houtart, de 85 anos, reconheceu os abusos ao diário "Le Soir", depois de uma denúncia anónima à comissão que trata dos casos de abuso sexual de menores pela Igreja belga.

A denúncia não referia nomes mas sustentava que um sacerdote da região de Liège teria violado um rapaz em duas ocasiões, nos anos 1970.» [Expresso]

Parecer:

É preciso ter lata para se ter candidatado a Nobel.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Lamente-se.»

DOUTORAMENTO ANULADO POR PLÁGIO NA UNIVERSIDADE DO MINHO

«Pela primeira vez uma universidade portuguesa anulou um doutoramento por motivo de plágio. De acordo com o que foi avançado ontem pelo jornal "Público", a Universidade do Minho anulou o doutoramento de uma professora do Instituto Politécnico do Porto que plagiara o trabalho de um investigador brasileiro. A doutoranda pediu a demissão duas semanas depois de o plágio se tornar público.

António Cunha, reitor da Universidade, justificou a decisão por a tese apresentada "não ser original" e, por isso, "não cumprir o regulamento de atribuição do grau de doutor daquela universidade". Antes disso, a anulação do grau de doutor também já tinha sido aprovada pelo Conselho Científico da Escola de Engenharia, com base em pareceres pedidos a especialistas.» [i]

Parecer:

É preciso ter muita lata.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Ofereçam-se umas orelas de burro à doutoranda e pergunte-se ao orientador o que andou a fazer.»

JODY FROST