domingo, dezembro 12, 2010

Umas no cravo e outras na ferradura

FOTO JUMENTO

Pequenos cogumelos (2 mm) na Quinta das Conchas, Lisboa

JUMENTO DO DIA

José Sócrates

Pois, se não fosse a crise o brilhante desempenho orçamental de Teixeira dos Santos ter-nos-ia poupado a cortes brutais de rendimentos, o défice de 2010 só foi empolado pela compra dos submarinos cujo valor é bem inferior ao do fundo de pensões da PT somado aos resultados dos PEC um e dois, não seria necessário mexer na legislação laboral, não se ouviria Teixeira do Santos a apelar ao sector privado que siga o exemplo do Estado no corte dos vencimentos, não se ouviria um membro do governo dizer que é necessário repensar o financiamento dos transportes, não teria sido necessário cortar os apoios sociais que foram concedidos precisamente com o argumento da crise.

Pois, o défice orçamental não cresceu exponencialmente, a dívida pública é negligenciável, os bancos estão tão saudáveis que só o BCE lhes empresta dinheiro.

É tempo dos políticos deste país encararem a realidade e explicarem-na aos portugueses sem estarem a pensar nas próximas sondagens ou a promover manobras de gestão do poder.

«"Não temos nenhum problema que exija recorrer ao Fundo Monetário Internacional. O nosso problema é apenas um problema orçamental que temos de corrigir, tal como outros países têm! Quem não percebe que o que estamos a viver é uma questão sistémica, que diz respeito ao euro, não percebeu nada desta crise. Se alguém acha que isto é um problema deste país ou daquele, não está a ver como a crise da dívida soberana está a afectar o euro! Isto é um problema de todos os países europeus, e acho que devemos fazer o possível para o combater em conjunto".» [DN]

COICES DO DIA

1. Portugal é o terceiro país da Europa com mais trabalhadores precários, os nossos 22% só são ultrapassados pela Espanha e pela Polónia, o que significa que a melhoria da economia não deverá passar necessariamente por maior precariedade:

«Portugal é o terceiro país da União Europeia com a taxa mais alta de trabalhadores contratados a prazo, só ultrapassado pela Polónia e por Espanha. Segundo os dados da Eurostat, Portugal tinha uma maior taxa de pessoas empregadas, mas em situação mais precária em 2009, comparada com a média europeia.» [CM]

2. Depois das preocupações com o défice e com a dívida soberana as agências de rating atacam agora a banca dizendo que os bancos portugueses vão precisar de ajuda:

«Moody's avisa que necessidade de Estado vir a ter que apoiar os bancos pode ser mais provável do que se pensava e Fitch aponta para ajuda de UE/FMI a "outro país" após a Irlanda.

Os juros da dívida pública portuguesa voltam a encaminhar-se para a perigosa barreira dos 7%, que o próprio ministro das Finanças definiu como o limite a partir do qual Portugal deveria recorrer à ajuda da UE e do FMI. Depois de novo ataque das agências de notação financeira, a semana encerrou com as Obrigações do Tesouro a dez anos a cotarem nos 6,3%, contra 5,9% uma semana antes e após cinco sessões de subidas consecutivas, que praticamente anularam os ganhos da semana anterior.» [DN]

3. As suecas já não são o que eram e o Assange parece ter sido o primeiro a percebê-lo. Esperemos que um dia destes não venhamos a descobrir que as duas mulheres que acusam o criador da Wikileaks de assédio e violação são agentes dos serviços de informação suecos ou prostitutas pagas por estes para tramar Assange:

«Assange é acusado de violação e assédio sexual de duas mulheres suecas, tendo sido preso ao abrigo de um mandado de detenção internacional emitido pela Suécia. Contudo, segundo os seus advogados, os EUA devem em breve acusá-lo também de espionagem, ao abrigo de uma lei de 1917, pela divulgação de documentos secretos norte-americanos. A sua advogada, Jennifer Robinson, acredita contudo que Washington estará a avaliar outras acusações, relacionadas com a parte informática. Isto porque sendo a WikiLeaks um meio de publicação da informação, Assange pode alegar protecção da primeira emenda da Constituição - que defende a liberdade de expressão e de imprensa. » [DN]

4. Talvez inspirado na Wikileaks Ramalho Eanes está convencido de que a desclassificação de documentos confidenciais nos EUA esclareça o acidente de Camarate. Pela forma como está indignado até parece que os acontecimentos ocorreram muito antes de ter sido Presidente da República:

«Eanes considerou ainda "perfeitamente inaceitável que trinta anos depois esta questão não tenha sido resolvida": "Julgo que a sua resolução era imposta pela democracia, pela informação correta aos portugueses e também pelas memórias de Sá Carneiro, Amaro da Costa e dos outros cidadãos portugueses que morreram no acidente". O general referiu ainda que pode ser "interessante esperar mais algum tempo", porque este ano irão ser desclassificados "documentos confidenciais dos Estados Unidos em relação àquela época".» [DN]

5. Cavaco sente vergonha de saber que há portugueses com fome, eu diria que os portugueses com fome perseguem Cavaco Silva pois já quando foi primeiro-ministro ocorreram ajudas de operação alimentar, foi nesse tempo que a fome se espalhou pelo Alentejo, por Setúbal e pelo Vale do Ave, foi também nesse mesmo tempo que ficaram famosas as bandeiras negras da fome:

«Na cerimónia, que decorreu ontem no Casino Estoril, Cavaco Silva afirmou: "Envergonha-nos a todos saber que há portugueses com fome." No lançamento da campanha estiveram também Bernardo Trindade, secretário de Estado do Turismo, António Costa Pereira, autor da petição contra o desperdício alimentar, e Mário Gonçalves, presidente da AHRESP. O objectivo da acção é arranjar um mecanismo para distribuir as sobras dos restaurantes pelas famílias mais carenciadas. Outra das hipóteses será a atribuição de senhas para refeição destinadas às instituições. Mediante a lista de restaurantes que participem na campanha, as pessoas podem ir aos locais levantar as refeições. A AHRESP quer criar uma Rede Nacional de Solidariedade, dirigida às famílias e aos cidadãos carenciados, que beneficiarão do apoio dos restaurantes dispostos a ceder as suas sobras em vez de as deitar fora.» [DN]

6. A tropa fica sem médicos ortopedistas, não quiseram ir para o Hospital da Estrela e pediram a aposentação. Digamos, que o ministro da Defesa conseguiu mais uma redução de pessoal, o problema é que agora os soldados que se magoarem terão de ir ao endireita, aliás, um dia destes é todo o país que terá de ir ao endireita:

«Os quatro médicos ortopedistas da Força Aérea e um dos da Marinha vão sair por se recusarem ir para o hospital da Estrela (Exército), onde o serviço está concentrado desde 30 de Novembro, soube o DN junto de diferentes fontes militares.

A Força Aérea enviou para a Estrela os seus ortopedistas, e no prazo definido pela tutela, só que os quatro (um militar e três civis) "meteram férias até" chegar a resposta aos pedidos de saída da instituição militar, revelou uma das fontes. O militar - Henrique Jones, médico da selecção de futebol - "pediu a passagem à reserva", um civil "vai passar à reforma", outro requereu "licença sem vencimento" e o quarto "rescindiu o contrato", precisou uma das fontes. » [DN]

7. José Sócrates é contra remodelações e os ministros incompetentes serão conhecidos como os Toyotas, vieram para ficar. A crer numa sondagem quem não concorda é a maioria dos portugueses, mas para Sócrates esses pouco importam, aqui quem sabe é ele:

«José Sócrates deve remodelar o Governo socialista. E António Mendonça, o ministro das Obras Públicas, é o ministro que mais opiniões recolhe no sentido de dever deixar o Executivo.

De acordo com a sondagem, um conjunto de seis ministros (do total de 16) recolhem claramente mais opiniões no sentido de deverem ser remodelados. São eles António Mendonça, Teixeira dos Santos, Vieira da Silva, António Serrano, Ana Jorge e Rui Pereira. » [Expresso]

8. Calendário Pirelli 2011, talvez um dos melhores:

9. Carlos César "manda umas bocas" a José Sócrates que é como quem diz que quem não quer ser urso não lhe veste a pele:

«Carlos César, o presidente do Governo Regional dos Açores, está por estes dias no epicentro de um furacão político. A sua decisão de compensar parte dos funcionários da administração pública regional dos cortes decididos pelo governo central criou uma tempestade política dentro do seu partido. Sócrates não gostou, apesar de respeitar os poderes autonómicos, e Carlos César insiste que a decisão não só é legítima como diz que o primeiro-ministro poderia ter penalizado menos os mais pobres, se optasse pelo "reforço de outros cortes e tributações". E dá o exemplo: nos Açores, os funcionários vão ser compensados porque o governo regional desistiu de construir a cobertura de um estádio de futebol. César diz ainda que esta polémica é a prova de que não está na fila dos candidatos à sucessão do secretário-geral e deixa uma crítica aos responsáveis do governo: "Há [ministros] que são cuidadosos na sua imagem, mas fazendo pouco mais". As perguntas do i foram enviadas por email e respondidas por escrito.» [i]

10. Este Alegre até parece outro, até já elogia Sócrates, quase faz esquecer o Alegre populista que não perdia uma oportunidade para se associar ao populismo e que ficou a associado à demissão de ministros competentes do anterior governo:

«O candidato presidencial Manuel Alegre elogiou hoje, sábado, o primeiro-ministro por recusar uma intervenção do Fundo Monetário Internacional em Portugal e disse esperar que Sócrates se "mantenha fiel" em defesa do conceito de justa causa na esfera laboral.» [JN]

11. Sócrates tem alguma razão em recusar uma remodelação, sempre que substitui um ministro o que entra é pior do que o que sai, quando constituir um terceiro governo o melhor é fugir.

12. Tapem os ouvidos, o Putin vai cantar:

13. Transparência internacional considera Portugal um cade study devido às contrapartidas dos negócios com material militar. O que está em estudo não deverá ser a existência ou não contrapartidas, mas sim saber quem as recebeu:

«Portugal é considerado pela Transparência Internacional um case study devido às suspeitas relacionadas com a aquisição e negociação de contrapartidas pelos dois submarinos às empresas alemãs do consórcio que venceu o concurso.» [Público]

JULIA NIKONCHUK