quarta-feira, dezembro 18, 2013

Ai não que não aguentam

Os técnicos de gabinete e alguns políticos menos escrupulosos transformaram Portugal num laboratório de economia, sujeitando os indígenas a uma política extremista que visa superar uma crise financeira ilibando os seus responsáveis e fazendo incidir os sacrifícios sobre um grupo restrito da população.
  
A ingenuidade colectiva leva muitos dos que discordam desta política a confiar num grupo de cidadãos que quase ninguém conhece e que foi escolhido nos bastidores da política e a que chamamos Tribunal Constitucional. Esse grupo de cidadãos já permitiu cortes salariais com o argumento de que seriam temporários. Depois, recusou mais um corte mas admitiu que os funcionários públicos contribuíssem com uma hora diária de trabalho escravo.
  
Como diriam os marxistas-leninistas do tempo de Durão Barroso o Tribunal Constitucional não passa de um órgão ao serviço da burguesia, isto é, não passa de um mecanismo de regulação do sistema e é óbvio que tentará iludir os cidadãos reduzindo a austeridade a metade e dando umas dicas para que o governo possa corrigir o texto e impor mais tarde a outra metade.
  
Não é por acaso que o governo não tocou nos abusos de mordomias dos juízes do Tribunal Constitucional ou nesse absurdo que é o subsídio de residência atribuído a todos os magistrados, incluindo os juízes do Tribunal de Contas, que, quanto se saiba, nunca funcionou nas comarcas ou em local onde os seus magistrados tivesse de procurar nova habitação.
  
A verdade é que tem havido um extremo cuidado em proteger as mordomias de todos os que podem incomodar o governo, o pessoal do Banco de Portugal foi dispensado da austeridade, os juízes do TC continuam a poder reformar-se na infância, os magistrados continuam com o subsídio de residência e até os polícias já foram promovidos.
  
Veja-se o que se está passando com os professores, para protestarem contra a avaliação vieram todos para a rua, agora uns pagam a taxa para serem avaliados e os outros são remunerados para verificar se os colegas escrevem sem erros de ortografia. Como em tudo em Portugal foi uma questão de preço, permitiu-se a uns quantos continuarem a cometer erros de ortografia para, em compensação, eliminar quase todos os outros da carreira. Entretanto, as horinhas extraordinárias pagas aos professores avaliadores sempre dão jeito para o Natal. Enfim, quantos dos professores que se manifestaram contra a avaliação no passado estarão agora ajudando o Crato a eliminar muitos dos seus colegas da carreira? Se calhar não se queixam porque o Crato elimina os professores sem burocracia.
  
Em Portugal costuma-se dizer que somos como as putas, estamos todos à venda e a única dúvida é saber a que preço nos vendemos. Talvez seja verdade e Ulrich, um dos culpados da crise e beneficiários desta política, tinha razão, o povo aguenta que se farta.
  
Portugal não é apenas um laboratório de políticas económicas extremistas e de base ideológica, é também um precioso laboratório de sociologia onde se pode aprender muito sobre a miséria humana.