Com uma maioria absoluta, um presidente que não o é, uma
troika a assumir as suas piores medidas e um presidente da Comissão Europeia a
ameaçar o país a nossa direita liberal revela um grande apego à democracia e
uma grande aversão À violência. Quem ouve Paulo Portas guinchar contra a violência
ainda é levado a pensar que no seu DNA político não há nem violência nem
ditadura, por pouco ainda nos esquecemos de que era ministro da Defesa quando
Portugal apoiou a destruição do Iraque com argumentos falsos para depois enviar
tropas com o argumento de que isso representaria bons negócios na reconstrução
daquele país.
Aliás, o mesmo Paulo Portas que ficou indignado com as
palavras de Mário Soares também estabeleceu um paralelo entre a saída da troika
e a restauração da independência em 1640. Se nas palavras de Soares se consegue
perceber um incentivo à violência, então nas palavras de Portas há um claro incentivo
à sublevação e, num gesto de puro cristianismo, até se pode concluir que Paulo Portas
apelou ao povo português para o atirar pela janela.
Este governo não apoio o derrube de Kadafi por meios violentos,
ignorando a destruição da Líbia e recolha do seu armamento por grupos terroristas
que se expandiram militarmente para sul? Este governo não apoiou o derrube de um
governo do Egipto que há poucos meses atrás até era um aliado do Ocidente para no
seu lugar se instalar um governo de extremistas? Não é este governo que apoia
uma guerra eu está destruindo a Síria?
A verdade é que Paulo Portas ou Passos Coelho não se
assemelham em nada a Mahatma Gandhi e mesmo este conduziu uma revolta contra o
imposto sobre o sal que os ingleses queriam cobrar aos indianos.
Os guinchinhos desta gente contra a violência é pura
hipocrisia, eles não são contra a violência e os seus protestos escondem o medo
das consequências dos abusos políticos que estão cometendo. Poderão ser
ignorantes, até porque nas universidades onde andaram não se aprende grande
coisa, mas todos sabemos que sem violência Portugal não existiria. Desde
Viriato que a violência nos corre no sangue, foi com violência u o país nasceu,
se libertou de Espanha e pôs fim à ditadura.
Não é violência adoptar políticas tão brutais que em poucos
anos o país perde população porque os seus quadros qualificados são forçados a
emigrar? Não é violência levar doentes de SIDA a abandonarem os tratamentos por
não terem dinheiro para transportes? Não é violência transformar a recolha de
alimentos pelo banco alimentar num acontecimento nacional merecedor de abertura
dos telejornais? Não é violência forçar milhares de jovens desistirem dos
estudos por falta de recursos? Não é violência manter um salário mínimo que não
permite a ninguém uma vida com dignidade?