O ano que agora termina não poderia ter sido mais generoso
para os portugueses, foram 365 dias de sucessos tão grandes que até a Santinha
da Rua da Horta Seca achou que tinha feito mesmo um milagre. Aliás, desde que a
Nossa Senhora apareceu em Fátima aos três pastorinhos que Portugal não estava
no centro de tanta actividade milagrosa, não conseguimos impor ao mundo a nossa
multinacional dos pastéis de nata, mas fomos de novo o maior centro de produção
de milagres, mesmo sem contar com os da Igreja Universal do Reino de Deus.
Compreende-se agora a dispensa do Álvaro (ainda se lembram
do Álvaro?) para no seu lugar pôr um ministro do Paulo Portas, o problema do
canadiano é que não conseguia fazer um milagre, onde punha um dedo cheirava
logo mal. Agora não, foi o Álvaro virar as costas e os milagres sucederam-se,
de um lado era a Santinha da Rua da Horta Seca a declarar a concretização de
milagres a um ritmo quase diário, do outro era a D. Maria a forçar os rapazolas
da troika a obedecerem aos ditames da Nossa Senhora de Fátima, a equipa jogou tão
bem que nem foi necessário tirar o Cristiano Ronaldo do Banco.
Se na Horta Seca já há peregrinos a exigir a instalação no
Chiado de um Santuário dedicado às visões milagrosas da Santinha local, ali
para os lados do Terreiro do Paço a ministra das Finanças começou por tentar o
milagre do regresso aos mercados desmentindo o agora agnóstico Vítor Gaspar ma,
coitada da senhora, em vez de milagres o mais que conseguiu foram truques de
ilusionismo, juntou-se à mana Marques Mendes e deu um espectáculo que consistia
em fazer desaparecer os negócios de swaps em que a senhora esteve envolvida. No
relatório da mana Mendes só falta dizer que a senhora está como o Cavaco Silva,
não percebe nada dessas siglas em inglês.
Os milagres eram tantos que o ministro Maduro, o overqualified
que Passos Coelho foi buscar para nos fazer esquecer da licenciatura do Relvas,
achou que era altura de organizar uma missa semanal, a que designou por
briefings, só para que o país ficasse a saber dos milagres que por aí se iam
fazendo. A ideia era todas as semanas mandar um bispo anunciar o milagre da
semana numa janela de São Bento apoiado por um lomba que faz lembrar o cardeal
que anunciou o “habemus papam” aquando da escolha do papa Chico.
Com um ano destes não admira que Passos Coelho e Paulo
Portas anunciem 2014 como o primeiro ano em que os portugueses terão direito a
um apartamento no Céu, algo que nem mesmo Cavaco conseguiu apesar dos bem
sucedidos negócios de compra e venda de acções ou de trocas de imobiliário.