Bastaria a incompetência para demitir este governo e, já
agora, o próprio presidente (com “p” pequeno) da República. À excepção do
ministro da Saúde de todos os outros exala o cheiro pestilento da
incompetência, cheiro que se manifesta em visões milagrosas dignas da Santinha
da Ladeira, em passeios deignos de um elefante numa loja de cristais no sector
da saúde, ou reformas orgânicas desenhadas com base em guias da estradas. Os
ministros deste governo ou desaparecem porque no meio de tanta incompetência
quem menos for visto mais sobe na consideração dos eleitores, ou aparecem a
custo e para nada dizer como sucedeu com o ministro da Administração Interna na
sequência da fantochada nas escadarias do parlamento.
Se a incompetência não bastasse chegaria a má-fé com que
muitas políticas são adoptadas, governa-se à base de medidas que não são alvo
de qualquer debate por parte dos cidadãos, encomendam-se fretes à troika para
que seja esta a responsável pelas medidas mais brutais, agora até se instalam
centros de emprego nas instalações de empresas onde se promovem despedimentos
colectivos, um dia destes vão ser instaladas centros de emprego, capelas,
morgues e delegações da tal agência de apoio à emigração que o eurodeputado do
PSD Paulo Rangel chegou a propor quando o governo encontrou na emigração a
solução para o desemprego que tencionava promover.
Se mesmo juntando a má fé à incompetência a má-fé das políticas,
para não referir a má-fé de algumas intervenções de Cavaco Silva ainda no tempo
de Sócrates, bastaria a propaganda governamental para considerar que este
governo ultrapassou as fronteiras do aceitável. Uma coisa é o marketing político
que visa dar melhor imagem do produto que o governo pretende vender. Outra é o
recurso às técnicas de propaganda de outros tempos para estimular o ódio em
relação aos idosos ou aos funcionários públicos, para dar o dito por não dito.
Um bom exemplo destas manobras de propaganda foi dado no
passado fim-de-semana, com todas as televisões a transmitirem em directo um discurso
banal, sobre um tema banal, feito por um primeiro-ministro banal, aquilo tinha
menor valor intelectual do que as missas dominicais transmitidas por televisão.
«“Por isso nos dói
tanto que, entre aqueles que hoje são mais desenvolvidos e evoluídos do ponto
de vista do conhecimento que adquiriram em termos académicos, muitos deles
tenham de escolher outras paragens para poderem aceder ou aos seus estágios ou
à sua realização profissional”.» [VAI E VEM]
Mas a máquina foi toda reunida para mostrar um
primeiro-ministro pesaroso com o drama da emigração que o seu governo promoveu
e chegou a elogiar. Mais grave do que o comportamento d primeiro-ministro foi o
dos directores de informação de todas as televisões que se envolveram nesta
manobra. Em ditadura ou em democracia a sociedade assemelha-se sempre a um
aquário e não há aquário em que não existam uns peixinhos chamados limpa-fundos
que sobrevivem comendo a merda dos outros.