A greve dos trabalhadores da limpeza de Lisboa deveria
merecer uma reflexão sobre o que move o sindicalismo português. Há algo de
confuso quando uma das greves mais prolongadas de trabalhadores portugueses
visa apenas o combate político a fantasmas, trata-se de uma greve preventiva
contra hipotéticas decisões que nenhum órgão camarário equacionou.
É evidente que para os trabalhadores da CML é mais confortável
trabalhar sob o controlo da burocracia central da autarquia do que passarem a
ter em cima os olhos dos presidentes das juntas de freguesia. Os sinais de que
o sector da limpeza é mal gerido são óbvios, o lixo acumula-se nos passeios, a
cidade é lavada quando chove e ainda é mais raro ver um trabalhador da limpeza
do que um polícia.
Mas o que levará os sindicatos a promover uma greve
prolongada contra fantasmas? Como se compreende que em sectores onde os
profissionais são dispensados às centenas, como sucede no ensino a CGTP se
limite a uns guinchos para promover greves de quase uma semana onde nada está
em causa?
É óbvio que com a decadência da extrema-esquerda a luta dos
professores entrou em lume brando e a máquina de Mário Nogueira não teve que
lutar pela influência. Já no sector da Câmara Municipal de Lisboa a luta é
outra. O PCP ficou de fora das decisões com a vitória de António Costa e acabou
por perder poder na junta metropolitana de Lisboa.
Desgastar António Costa é uma prioridade, desgasta-se o PS, prejudica-se
a imagem de um potencial candidato a primeiro, vingam-se as derrotas na
capital. E esta gloriosa luta é financiada com os salários dos que menos ganham
em Lisboa a troco de uma vitória contra falsos despedimentos.
É este o sindicalismo que temos em Portugal, nas ruas de
Lisboa o lixo não resulta apenas de uma greve é também um símbolo de um
sindicalismo que aos poucos também se vai reduzindo a lixo.