segunda-feira, dezembro 30, 2013

Lixo

A greve dos trabalhadores da limpeza de Lisboa deveria merecer uma reflexão sobre o que move o sindicalismo português. Há algo de confuso quando uma das greves mais prolongadas de trabalhadores portugueses visa apenas o combate político a fantasmas, trata-se de uma greve preventiva contra hipotéticas decisões que nenhum órgão camarário equacionou.

É evidente que para os trabalhadores da CML é mais confortável trabalhar sob o controlo da burocracia central da autarquia do que passarem a ter em cima os olhos dos presidentes das juntas de freguesia. Os sinais de que o sector da limpeza é mal gerido são óbvios, o lixo acumula-se nos passeios, a cidade é lavada quando chove e ainda é mais raro ver um trabalhador da limpeza do que um polícia.

Mas o que levará os sindicatos a promover uma greve prolongada contra fantasmas? Como se compreende que em sectores onde os profissionais são dispensados às centenas, como sucede no ensino a CGTP se limite a uns guinchos para promover greves de quase uma semana onde nada está em causa?

É óbvio que com a decadência da extrema-esquerda a luta dos professores entrou em lume brando e a máquina de Mário Nogueira não teve que lutar pela influência. Já no sector da Câmara Municipal de Lisboa a luta é outra. O PCP ficou de fora das decisões com a vitória de António Costa e acabou por perder poder na junta metropolitana de Lisboa.

Desgastar António Costa é uma prioridade, desgasta-se o PS, prejudica-se a imagem de um potencial candidato a primeiro, vingam-se as derrotas na capital. E esta gloriosa luta é financiada com os salários dos que menos ganham em Lisboa a troco de uma vitória contra falsos despedimentos.


É este o sindicalismo que temos em Portugal, nas ruas de Lisboa o lixo não resulta apenas de uma greve é também um símbolo de um sindicalismo que aos poucos também se vai reduzindo a lixo.