Burros mirandeses no Castelo de São Jorge, Lisboa
Quando Portugal entrou na CEE fez-se um diagnóstico das razões do nosso atraso e foram-nos concedidas ajudas para nos aproximar-nos. Recebemos milhões para a formação profissional mas esses milhões foram esbanjados e em vez de terem qualificado os trabalhadores portugueses enriqueceram uma nova classe emergente, um novo tipo de burguesia, uma burguesia política a que hoje designamos por cavaquistas. É uma burguesia ávida de dinheiro e que quando deixou de ter acesso aos milhões da CEE desenvolveu esquemas de enriquecimento fácil e fraudulento, como se viu no caso FMI.
Apareceu uma nova classe de políticos especializados em ganhar eleições a qualquer custo para poder manter o estatuto de privilégio, o único indicador que importava aos governos eram as sondagens eleitorais. As regiões que votava no parido do governo eram beneficiadas com os investimentos financiados pelos fundos comunitários, as que não votavam no partido do governo eram condenadas à miséria, veja-se como o Alentejo foi tratado durante o período miserável que ficou conhecido por cavaquismo.
Os jornais eram controlados por amigos, o Estado ficou prisioneiro das estruturas partidárias, tudo estava ao serviço dos objectivos eleitorais do partido do governo. As negociações com Bruxelas visavam apenas a obtenção de ajudas para novos projectos que iam enriquecer a nova burguesia esfomeada por dinheiro. Durante décadas cada conselho europeu terminou com mais uma gloriosa vitória para os governos portugueses. Trocou-se a agricultura, as pescas, os têxteis, a generalidade dos interesses nacionais foram vendidos a preços de saldo nas reuniões europeias, em troca recebiam-se ajudas comunitárias. A nossa burguesia política enriquecia e a Europa fechava os olhos a este esquema corrupto que ia de encontro aos interesses dos países mais poderosos e de uma boa parte da burocracia de Bruxelas.
O país foi gerido de forma corrupta,com o interesse nacional a ser filtrado pelas ambições eleitorais de um saloio que chegou a primeiro-ministro. Os recursos eram usados para programar inaugurações nos diversos momentos eleitorais, as regiões onde se investiam eram as que votavam no poder, os empresários que beneficiavam das ajudas eram os que serviam de alicerce ao poder financiando-lhes as campanhas eleitorais.
Esta crise pode ter surgido com a crise financeira eleitoral, mas a miséria que pôs a descoberto não resulta em grande parte dessa crise, já cá estaca encoberta, ignorada por um jornalismo corrupto, desprezada por um poder gerido por uma burguesia que fez da corrupção forma de vida. Gastaram-se muitos milhões em formação mas o país continua com um problema de qualificações, investiram-se muitos milhões em infraestruturais mas muitas salas de aulas continuaram a ser contentores.
O país esteve e continua a estar prisioneiro de elites corruptas e oportunistas, elites que apoiam o poder a troco de favores, elites que vão dos meios culturais aos banqueiros, elites sem valor que não se importam de lamber os pés a políticos sem grandes capacidades intelectuais, sem quaisquer prova dadas. Mas é desses políticos fracos que é feita esta burguesia política que nos governa, com a sua fraqueza estão nas mãos dos interesses, com a sua falta de valores não têm o menor pejo em levar o povo à miséria para enriquecer os poderosos, com a sua falta de escrúpulos tudo fazem para chegar e manter o poder.
Por isso estamos em extinção tal como está o burro mirandês como escreveu o jornalista do New York Times.