quinta-feira, março 13, 2014

Argumentos ridículos de gente ridícula

Independentemente das virtudes do manifesto dos 70 ou do seu sentido de oportunidade o seu grande defeito na perspectiva dos que nos governam, seja Passos Coelho, Cavaco Silva ou desse pequeno dálmata que se dá pelo nome de Paulo Rangel é o facto de implicar que se discuta o país, se questione o sucesso do ajustamento ou a sustentatibilidade da dívida. Também se compreenda que esse sargento do exército de ocupação que veio a um seminário seja contra tal discussão, a sua intervenção já consta do seu brilhante currículo no FMI e seria de uma grande inconveniência falar agora do assunto.
  
Os técnicos do FMI querem que o caso português seja apresentado como um sucesso, o Olli não quer uma mancha no seu mandato de comissário, Durão Barroso quer que os portugueses lhe devam a generosidade, Cavaco quer dizer que ajudou os portugueses com os seus conhecimentos de economia e Passos Coelho quer sobreviver no poder para prosseguir a sua obra do novo Estado Novo. O pior que poderia suceder a toa esta gente é que se discuta agora seja o que for.
  
É evidente que se Portugal quer financiar-se nos mercados e permanecer numa zona monetária cujas normas asseguram a contínua transferência de riqueza para a Alemanha não é de um todo conveniente questionar agora se o país deve ou não defender uma reestruturação da sua dívida. O pequeno Rangel tem alguma razão qundo questiona a oportunidade da sua iniciativa. O problema é que nunca será oportuno discutir o assunto pois os especuladores farão subir as taxas de juro.
  
Não ´oportuno discutir se os cortes dos salários pode passar a definitivo nos termos da Constituição pois isso coloca dúvidas sobre o equilíbrio financeiro e os mercados poderão reagir mal. Não é oportuno questionar a constitucionalidade das normas do OE e por isso Cavaco suspende a Constituição e promulga tudo e mais alguma coisa. 
   
Este governo e o presidentezinho que o apoia declarou ser inoportuno os portugueses discutirem o que quer que seja sobre o seu futuro, toda e qualquer discussão em torno do que possam ser os interesses do país é um debate inoportuno. O país deve comer e calar, deve aceitar que tudo o que Passos Coelho decide é para o Bem da Nação e, portanto, é inoportuna qualquer discussão em torno disso, porque o sarrabulho democrático irrita os mercados.
  
Cavaco também já declarou que é inoportuno haverem partidos com opiniões contrárias e propostas diferentes para o futuro do país, devem prescindir das suas diferenças e transformar as políticas decididas por Passos Coelho e por ele próprio como consensuais, para que os juros sejam mais baixos. A democracia é cara e os portugueses têm de escolher entre um governo tutelado por Cavaco e sem democracia de facto ou pela democracia a juros mais elevados.
  
Portugal vai ficar para a história da política como o país onde os governantes e o presidente usaram os argumentos mais ridículos para enganarem o seu próprio povo.