Foto Jumento
Mouraria, Lisboa
Jumento do dia
António José Seguro
De um líder da oposição espera-se que seja um candidato a primeiro-ministro e não que aceite o papel de figurante das encenações de Pedro Passos Coelho. Seguro aceita o convite da treta e horas depois um jornal que costuma defender os interesses do PSD vem reduzir o líder do PS a um mero figurante do primeiro-ministro. Lamentável demais para poder ser verdade.
Para discutir as infraestruturas Seguro exige documentos, mas para ser ele a aparecer nas televisões não exige nada, nem sequer que os outros partidos parlamentares sejam igualmente convidados, e cai que nem um patinho.
«A coincidência temporal não deixa margem para dúvidas. Pedro Passos Coelho quer chegar a Berlim, onde amanhã se vai encontrar com a chanceler Angela Merkel, com notícias frescas sobre as possibilidades de um consenso para o pós-troika em Portugal. Mas os dois líderes partem para a reunião que hoje ao fim da tarde (18h30) terá lugar em S. Bento sem grandes expetativas.
"Uma estratégia orçamental de médio prazo que ancore de forma robusta as perspetivas de disciplina e os objetivos assumidos em matéria de redução do défice e da dívida" é, no essencial, o que Passos quer acordar com Seguro. Ou seja, o primeiro-ministro quer que o líder da oposição se comprometa com tetos para a despesa pública através de cortes no Estado.» [Expresso]
António José Seguro
De um líder da oposição espera-se que seja um candidato a primeiro-ministro e não que aceite o papel de figurante das encenações de Pedro Passos Coelho. Seguro aceita o convite da treta e horas depois um jornal que costuma defender os interesses do PSD vem reduzir o líder do PS a um mero figurante do primeiro-ministro. Lamentável demais para poder ser verdade.
Para discutir as infraestruturas Seguro exige documentos, mas para ser ele a aparecer nas televisões não exige nada, nem sequer que os outros partidos parlamentares sejam igualmente convidados, e cai que nem um patinho.
«A coincidência temporal não deixa margem para dúvidas. Pedro Passos Coelho quer chegar a Berlim, onde amanhã se vai encontrar com a chanceler Angela Merkel, com notícias frescas sobre as possibilidades de um consenso para o pós-troika em Portugal. Mas os dois líderes partem para a reunião que hoje ao fim da tarde (18h30) terá lugar em S. Bento sem grandes expetativas.
"Uma estratégia orçamental de médio prazo que ancore de forma robusta as perspetivas de disciplina e os objetivos assumidos em matéria de redução do défice e da dívida" é, no essencial, o que Passos quer acordar com Seguro. Ou seja, o primeiro-ministro quer que o líder da oposição se comprometa com tetos para a despesa pública através de cortes no Estado.» [Expresso]
«A forma violenta como o governo e a tralha neoliberal, e mesmo o senhor Presidente da República, reagiram a um simples manifesto não augura nada de bom para a democracia
Sem as pretensões de um outro manifesto, apresentado em 1848, por Marx e Engels, o manifesto apresentado a semana passada caiu sobre o governo que nem uma bomba. Este, assinado por 74 pessoas, foi apenas um apelo moderado ao governo para que, na situação em que estamos, considere a restruturação da dívida como uma solução para aliviar um prolongado Inverno, de décadas de austeridade e pobreza. Proposta suave, mas que provocou um abalo sísmico político e um chorrilho de críticas que fez estalar o verniz a muita gente. O assunto é pertinente e nem sequer é novo. No mínimo, há quase duzentos anos que a dívida do Estado e a sua reestruturação nos persegue. Já em 1909, no estertor da monarquia, desalentado, porque tardava a implantação da República, dizia Guerra Junqueiro, poeta panfletário, republicano e tudo, segundo conta Raul Brandão, nas Memórias: "Isto está liquidado, a ocasião passou. O rei casa-se com uma inglesa e vem por aí um caixeiro qualquer de Inglaterra, que manobra por trás da cortina. É a bancarrota adiada por muito tempo. Daqui a anos o juro da dívida interna é reduzido, mas vai-se vivendo e paga--se ao estrangeiro, que é o principal". É o principal para eles, obviamente. Há quase um século colocava-se, exactamente da mesma maneira, as mesmas questões: a decadência do regime, os mandantes estrangeiros e a dívida do Estado.
O dito manifesto teve o mérito de, na altura certa, pôr o dedo nas várias feridas do actual governo. E daí a reacção tão nervosa e descabelada, como quem grita de dor, do primeiro-ministro e de vários ministros. Desde logo, fez cair no ridículo o discurso eufórico do "sucesso" das medidas de austeridade dos últimos três anos, com que a coligação de Direita pretendia alimentar a próxima campanha eleitoral. Levantou o manto espesso da demagogia, deixando à mostra a nudez crua da verdade: pelo caminho por que este governo enveredou, os portugueses regressarão, aos poucos, às agruras e à pobreza dos anos 50 e 60 do século passado. Nada que lhes importe: os portugueses estão pior, mas os mercados estão tranquilos. Até Cavaco Silva, do alto da sua cumplicidade com as políticas do governo, avisou: com a dívida que temos, nem daqui a trinta anos deixaremos de empobrecer. A estratégia do governo de propagandear o "sucesso" das suas políticas esfumou-se com este manifesto.
Depois, o manifesto tocou noutra ferida do governo: os falsos e demagógicos apelos ao "consenso". Ficou provado que é possível encontrar consensos na sociedade portuguesa. O apelo à reestruturação da dívida reuniu pessoas de todos os quadrantes políticos, de Bagão Félix a Francisco Louçã, de João Cravinho a Carvalho da Silva. Até o incrédulo Jerónimo de Sousa, alinhou, ao dizer: "Este manifesto só pecou por chegar tarde, mas mais vale tarde do que nunca". Isto quer dizer que é possível alcançar consensos na sociedade portuguesa, mas não à volta das políticas suicidárias do governo. E, assim, se desmascarou o outro eixo do governo para enganar incautos e conseguir votos. Não é um consenso com o maior partido da oposição que o governo quer. Quer meter o país de cócoras à volta de um pensamento único - a austeridade e os interesses dos "mercados".
Finalmente, a forma violenta como o governo e a tralha neoliberal, e mesmo o senhor Presidente da República, reagiram a um simples manifesto não augura nada de bom para a saúde da nossa democracia. Começaram, como profissionais do engano, a criticar propostas que não constavam no documento. Desfeito o ardil, passaram a atacar a seriedade, o carácter e as motivações dos subscritores. Acabaram, como único argumento, a depositar velas no altar do Santo dos Mercados. Pelo seu lado, o senhor Presidente da República mostrou que, para ele, a opinião ainda é um delito, exonerando de imediato os seus conselheiros, quando levou meses para exonerar um outro conselheiro, este de Estado, envolvido num dos maiores roubos da história feito aos portugueses.
Ficou claro que o país precisa de mais manifestos.» [i]
mais uns euros dos contribuintes
«O Ministério Público abriu cinco inquéritos relacionados com a manifestação das forças de segurança realizada a 6 de março, junto à Assembleia da República, com base em participações apresentadas pela PSP, informou hoje a Procuradoria-Geral da República.» [DN]
Parecer:
Este tipo de investigações só servem para entulhar a justiça e gastar o dinheiro dos contribuintes.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Aguarde-se pelos resultados.»
«Portugal condenou hoje os comportamentos "criminosos e inadmissíveis" contra os homossexuais, nomeadamente nos países que perseguem pessoas por causa da sua orientação sexual, numa intervenção perante a comissão de direitos humanos da União Interparlamentar (UIP).» [Notícias ao Minuto]
Cá dentro discrimina-se chumbando a coadopção e propõem-se referendos da treta, lá fora condena-se.
Hipocrisia
«Portugal condenou hoje os comportamentos "criminosos e inadmissíveis" contra os homossexuais, nomeadamente nos países que perseguem pessoas por causa da sua orientação sexual, numa intervenção perante a comissão de direitos humanos da União Interparlamentar (UIP).» [Notícias ao Minuto]
Parecer:
Cá dentro discrimina-se chumbando a coadopção e propõem-se referendos da treta, lá fora condena-se.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Vomite-se.»