Se aquilo de que o país precisa é mesmo consenso então o que Cavaco tem feito é tudo menos procurar o consenso, tem-se unido a Passos Coelho em torno de uma política económica absurda para depois apelarem ao consenso em torno daquilo que já decidiram. A estratégia do consenso por parte de Cavaco e Passos Coelho não passa de uma manobra política para exercer chantagem sobre o PS para que este apoie a posteriori as políticas.
O que em Portugal representa o consenso, o equilíbrio social e político, é a Constituição da República, é por isso que cabe ao Presidente da República a defesa da Constituição em nome de todos os portugueses, é por isso que nos habituámos a ver em Belém alguém que costumava representar todos os portugueses. Mas Cavaco tem preferido ser o presidente dos seus portugueses, tem utilizado a Constituição como arma de arremesso que usa em função das suas estratégias pessoais.
Em mais de dois anos Cavaco nada fez para que se chegasse a qualquer consenso, antes pelo contrário, deu cobertura a um governo que negociou com a troika sem ouvir ninguém, graças ao silêncio de Cavaco Passos adequou o memorando à sua agenda política transformando-o numa arma contra a Constituição do país.
Cavaco e Passos Coelho só se lembraram das vantagens do consenso quando perceberam que todas as suas políticas estavam presas por arames, as reformas ou estavam por fazer ou, como sucedeu com a legislação laboral, redundaram num fracasso. Passos descobriu que precisava de amarrar o PS às consequências da sua política, os portugueses não comem mercados e o PSD não terá margem para eleitoralismos.
Cavaco não pode permitir que das próximas eleições legislativas saia um governo do PS com uma maioria absoluta, isso seria o seu fim e até ao termo do seu mandato seria um presidente humilhado. Isto é muito mais do que Cavaco consegue suportar e depois de dois mandatos presidenciais medíocres a Cavaco só restaria a humilhante posição de fazer o que o PS lhe ordenasse. Aquele que derrubou um governo do PS teria de voltar a dar posse a um governo deste partido, depois de ter ajudado a deteriorar a democracia e a destruir a economia portuguesa.
O país está carente de consensos mas Passos Coelho e Cavaco Silva nunca poderão fazer parte desse consenso, Só é possível um consenso com gente que respeita a palavra, que gosta da democracia, que defende os valores constitucionais, que se comporta de forma transparente nos debates eleitorais. Nem Passos Coelho nem Cavaco Silva foram alguma vez defensores de consensos, antes pelo contrário, procuraram sempre governar nos limites da constitucionalidade, viram sempre nas instituições ou nos que deles discordavam forças de obstrução.