Bastou uma redução na oferta de emprego e uma ligeira
redução dos salários para o país assistir a uma fuga em massa de quadros
jovens. Para muitos isto foi o resultado da crise, para o governo foi o alívio
das tensões e o abandono do país por parte de vozes críticas, para Cavaco é um
problema de pica colectiva e de natalidade, como se o envelhecimento da
população fosse solucionável com horas extraordinárias nocturnas.
O problema é bem mais grave e tenderá a agravar-se, o que
sucedeu nestes três anos foi apenas um empurrão que tornou o fenómeno mais
evidente. Passada a crise a situação tenderá a agravar-se, a estratégia de
empobrecimento e de investimento em sectores menos qualificados conduzirá a
maiores vagas de emigração de quadros qualificados. O modelo económico
idealizado por Vítor Gaspar e adoptado por Passos Coelho levará a crescentes
vagas de emigração de quadros qualificados.
Se o país não precisa de quadros qualificados, se a
investigação científica está condicionada às necessidades da economia e esta
cresce à custa de mão-de-obra pouco qualificada é óbvio que a economia
absorverá cada vez menos quadros e as nossas escolas forma trabalhadores até ao
décimo segundo ano de escolaridade e emigrantes nos restantes graus de ensino.
Não admira que há quem defenda que a investigação deve ser orientada em
exclusivo para as necessidades das empresas, que se ouça dizer que a oferta das
universidades deve ser adequada às necessidades e nos congressos da direita já
há moções a defender o regresso ao ensino obrigatório reduzido ao sexto ano de
escolaridade.
O fenómeno da emigração dos idosos do norte para os sul da
Europa já presente no Algarve, a que devemos acrescentar os emigrantes que
partiram nos anos sessenta vai engrossar daqui a três décadas quando os agora
jovens emigrantes regressarem para gozarem as suas reformas ricas. A tendência
é óbvia, teremos trabalhadores mal qualificados e emigrantes e reformados ricos.
Com o actual modelo económico será impossível inverter esta
tendência, até porque as ofertas das universidades e das empresas estrangeiras levar-nos-ão
os melhores quadros, o que significa que a tendência para a pouca qualificação
nas empresas portuguesas não se limitará aos trabalhadores, estender-se-á à
gestão, da mesma forma que as próprias universidades tenderão a
desqualificar-se. Aliás, este fenómeno já é evidente nas nossas universidades,
os nossos melhores alunos vão doutorar-se no estrangeiro e uma boa parte não
regressa.
Curiosamente o fenómeno estende-se ao governo e basta olhar
para a qualificação dos membros do governo de Passos Coelho para se perceber
que um dia só cá ficarão os “nabos”, todos os que tiverem dois palmos de cabeça
não estão dispostos a aturar os nabos que gerem as empresas ou os nabos que
governam o país.