sábado, março 22, 2014

Portugal: o país dos empregados pobres, de nabos e de reformados ricos

Bastou uma redução na oferta de emprego e uma ligeira redução dos salários para o país assistir a uma fuga em massa de quadros jovens. Para muitos isto foi o resultado da crise, para o governo foi o alívio das tensões e o abandono do país por parte de vozes críticas, para Cavaco é um problema de pica colectiva e de natalidade, como se o envelhecimento da população fosse solucionável com horas extraordinárias nocturnas.
 
O problema é bem mais grave e tenderá a agravar-se, o que sucedeu nestes três anos foi apenas um empurrão que tornou o fenómeno mais evidente. Passada a crise a situação tenderá a agravar-se, a estratégia de empobrecimento e de investimento em sectores menos qualificados conduzirá a maiores vagas de emigração de quadros qualificados. O modelo económico idealizado por Vítor Gaspar e adoptado por Passos Coelho levará a crescentes vagas de emigração de quadros qualificados.
 
Se o país não precisa de quadros qualificados, se a investigação científica está condicionada às necessidades da economia e esta cresce à custa de mão-de-obra pouco qualificada é óbvio que a economia absorverá cada vez menos quadros e as nossas escolas forma trabalhadores até ao décimo segundo ano de escolaridade e emigrantes nos restantes graus de ensino. Não admira que há quem defenda que a investigação deve ser orientada em exclusivo para as necessidades das empresas, que se ouça dizer que a oferta das universidades deve ser adequada às necessidades e nos congressos da direita já há moções a defender o regresso ao ensino obrigatório reduzido ao sexto ano de escolaridade.
 
O fenómeno da emigração dos idosos do norte para os sul da Europa já presente no Algarve, a que devemos acrescentar os emigrantes que partiram nos anos sessenta vai engrossar daqui a três décadas quando os agora jovens emigrantes regressarem para gozarem as suas reformas ricas. A tendência é óbvia, teremos trabalhadores mal qualificados e emigrantes e reformados ricos.
 
Com o actual modelo económico será impossível inverter esta tendência, até porque as ofertas das universidades e das empresas estrangeiras levar-nos-ão os melhores quadros, o que significa que a tendência para a pouca qualificação nas empresas portuguesas não se limitará aos trabalhadores, estender-se-á à gestão, da mesma forma que as próprias universidades tenderão a desqualificar-se. Aliás, este fenómeno já é evidente nas nossas universidades, os nossos melhores alunos vão doutorar-se no estrangeiro e uma boa parte não regressa.
 

Curiosamente o fenómeno estende-se ao governo e basta olhar para a qualificação dos membros do governo de Passos Coelho para se perceber que um dia só cá ficarão os “nabos”, todos os que tiverem dois palmos de cabeça não estão dispostos a aturar os nabos que gerem as empresas ou os nabos que governam o país.