Não sei quanto ganha o Marques Mendes a fazer de garganta funda na SIC, nunca me dei ao trabalho de saber quanto ganhará a deputada Ana Gomes no Parlamento Europeu, não imagino quanto cobra o jurisconsulto Moreira pelos seus pareceres e opiniões, não quero saber quanto aufere o juiz Mário Alexandre que dispensa promoções, não faço ideia de quanto ganhava a companheira de Marcelo quando era administradora no BES.
Sei que Sócrates tinha um apartamento de luxo no centro de Lisboa e foi estudar para Paris com o dinheiro da mamã rica, que os almoços de peixe grelhado no Gigi custam um dinheirão, que as festas palacianas da capital custam fortunas, sei que há uma imensa burguesia política que vive luxuosamente na capital.
Mas voltemos aos 580 Euros, talvez muitos estejam esquecidos, mas esta quantia é um salário mínimo bruto. Agora tirem as deslocações, porque os pobres não vivem propriamente nos centros das cidades, as refeições e outros custos associados ao trabalho, como os trapinhos e outras pequenas coisas, multipliquem por dois e façam as contas a quanto ganha um casal de portugueses que auferem do salário mínimo.
Imaginem que este casal não comete a loucura de ter dois filhos, descontem as despesas do infantário, das roupas, dos brinquedos, dos medicamentos, da renda de casa, da luz, da água, do gás, façam bem todas estas continhas e vejam quanto sobra. Pois é, o melhor é que a assistente social não saiba de nada, senão as crianças ainda vão parar à família de algum bispo da IURD, com o competente relatório da Santa Casa e o consentimento de uma magistrada que se preocupa muito com as criancinhas.
Não vou discutir quem pagou os sapatos Prada do José Sócrates, quanto é que Marques Mendes ganha por contar segredos e recados, quanto é que os vistos gold e muitas outras coisas rendem em gorjetas a toda esta burguesia ostensiva da capital. O que me irrita é que toda esta gente mete um ar muito sério na hora de discutir o ordenado mínimo e invariavelmente chega à brilhante conclusão de que é preciso cuidado para defender a competitividade nacional.
Quando devia ser toda essa gente a trabalhar e a esforçar-se para acabar com a miséria de muitos portugueses são estes a serem obrigados a viver com ordenados de 580 Euros não vá a perda da competitividade dar cabo do caldinho. Quando ouvimos falar dos milhões do carlos Silva, das off shores do Pinho, dos esquemas dos vistos, da imensidão de notícias sobre dinheiro é impossível conter alguma revolta e ou isto muda ou um dia vai mesmo acabar mal.