sábado, maio 05, 2018

GOSTAVA DE SER O RICARDO SALGADO POR ALGUMAS HORAS

Eu não gostava de ser mosca, preferia ser Ricardo Salgado nem que fosse por algumas horas. Perguntar-me-ão porquê horas, se não bastaria uns minutos. Há quem diga que gostava de ser mosca para entrar nalguns lugares onde o comum dos mortais não entram, mas preferia ser o Ricardo Salgado por umas horas e partilhar das suas memórias, deverão ser tantas que uns minutos não bastariam para tirar as minhas notas.

Quanto políticos, quantos governantes, quantos presidentes, quantos políticos promissores, quantos dirigentes do Estado não se terão curvado por Ricardo Salgado? Quantos não deram o rabinho e conco tostões para partilharem uma almoçarada com o Ricardo, quantos não terão sonhado serem convidados para uma tarde na praia o Carvalhal, quantos não terão pedido a próximos de Ricardo Salgado uma oportunidade, mesmo que fortuita, para estarem perto dele?

Durante anos Ricardo Salgado foi adorado, invejado, desejado, idolatrado, premiado, respeitado, elogiado bajulado por muita gente, hoje seguem a lógica muito portuguesa e em vez de se manterem em silêncio espantam os fantasmas cuspindo no prato onde comeram, onde tentaram comer ou onde sonharam comer. os políticos disputavam a sua simpatia, os jovens promissores tinham os seus estudos nos EUA financiados pelo padrinho, os filhos dos dirigentes do estado eram empregados.

O que sentirá Ricardo Salgado quando agora todos imitam Pedro e nesta imensa ceia de orgia de esquecimento asseguram que nunca o conheceram, o que sentirá Salgado ao ver tanta gente que se dispôs a servi-lo exorcizarem agora a sua corrupção moral atacando-o e desprezando-o. Ricardo Salgado conhece agora a outra face de uma moralidade corrupta, a traição e cobardia.

Como se sentirá Salgado a ver aqueles a quem ofereceu aposentos em hotel de cinco estrela perseguirem ministros achando que a oferta de um café é motivo de corrupção? Ironicamente Ricardo Salgado conhece melhor a forma de ser português e muitas das personagens dos diversos poderes bem melhor do que os cientistas políticos formados na escola de Adriano Moreira, que os mais distintos ideólogos ou os melhores alunos do catedrático Coelho. Ricardo Salgado é muito provavelmente quem melhor conhece a forma de estar dos agentes do poder, foi ele que formou, alimentou e promoveu muitos deles.