sexta-feira, maio 11, 2018

UM AZAR NA VIDA


No seu tempo de antena Ferreira Leite justificou a sua oposição à divulgação dos caloteiros da CGD com  o argumento de que qualquer pessoa pode ter um azar na vida e que por isso não deve ver o seu nome numa lista pública. O argumento é poderoso, mas falível.

Quantos portugueses que tinham dívidas ao fisco por um qualquer azar na vida e depois viram essas dívidas serem vendidas ao City pela Manuela Ferreira Leite, para depois serem cobradas a qualquer custo e com recurso ao truque da divulgação do nome dos contribuintes cumpridores? É bom lembrar que foi com Manuela Ferreira Leite que o fisco começou a tratar desta forma todos os que por causa de um azar na vida ficaram a dever ao fisco.

Ironia do destino, o mesmo Paulo Macedo que à frente do fisco não olhou a azares alheios na hora de cobrar dívidas, tendo sido ele a introduzir as penhoras, a lista pública dos devedores e a venda de casas para pagar pequenas dívidas, está agora na CGD onde não adoptou nenhum dos truques que implementou no fisco. Estamos, portanto, num país onde é pior ter um azar na dívida e ficar a dever 100€ ao fisco, do que ter o mesmo azar na vida e ficar a dever milhões à CGD.

Azar na vida têm os que são ludibriados por aqueles que devem milhões à banca e que graças a esses milhões continuam a fazer negócios que apenas servem para arruinar aqueles que enganam. Um dos grandes problemas da economia portuguesa é precisamente andar por aí tanta gente com azar na vida a fazer calotes a outras empresa, a concorrer de forma desleal à custa de créditos concedidos a troco de gorjetas aos bancários. Azar na vida vão ter aqueles que agora são protegidos com a tolerância de boas almas como a ex-líder do PSD.

É saudável para a economia que se saiba quem por causa desses tais azares na vida anda a fazer negócios sem intenção de pagar a fornecedores, de cumprir com o pagamento de salários ou a escapar aos impostos para sobreviver, Ainda por cima é o Estado que tem de endossar as consequências desses azares na vida aos contribuintes, em consequência do refinanciamento do capital da CGD, em resultado de os clientes ricos da CGD serem tão azarentos.

Um azar na vida teriam eles se deixassem de poder fazer negócios porque o seu nome na praça estava associado a calotes e se o governo fizesse às dívidas da CGD o mesmo que Ferreira Leite fez à do fisco, se as vendesse a quem as cobrasse sem contemplações, ao próprio Estado, que as passaria a cobrir através do fisco. Dessa forma passariam automaticamente a constar na lista dos que devem ao fisco, sendo cobradas com os mesmo critérios com que são cobradas as dívidas fiscais.