Tinha saudadas daquela forma de estar sentado, como se
tivesse engolido uma esferográfica, firme e hirto, com ar de avô mau, tentando assustar
todos os que não partilham das suas ideias e temores religiosos, falando com ar
de comunicação oficial numa noite de 31 de Julho. Até fiquei com a sensação de
que o pobre senhor terá caído de uma cadeira e os familiares não quiseram
desiludi-lo quando saiu do desmaio a julgar que ainda estava em Belém.
Os partidos da esquerda que se cuidem, o homem que sempre
foi um modelo de virtudes democráticas e que sempre teve um fraquinho pela esquerda,
fez agora o que nunca fez, promoveu um boicote aos que discordassem dele em
relação à eutanásia. A esquerda está perdida, como é sabido o senhor de
Boliqueime nunca apelou a que não votasse nos partidos da esquerda, o homem foi
sempre um modelo de isenção e pluralismo.
Ridículo, a pose de presidente, o retrato dele e da Dona Maria
encoberta por um véu preto ao lado do papa, o ar ameaçador, a forma um pouco
iraniana como ameaçou os partidos com uma espécie de guerra santa. Parece que o
senhor acha que tem alguma aceitação, que alguém ainda vota no partido que ele
indicar, a não ser, talvez, a Leonor Beleza. Pobre Cavaco, falou e ninguém
ouviu, passado um dia já ninguém se lembra dele ou do que le disse.
Esperemos que o ex-presidente tenha percebido a lição, que
se retire e que não volte a fazer ameaças ou apelas a boicotes eleitorais em
defesa das suas ideias religiosas. Esperemos que ele tenha percebido que neste
momento tem menos audiência do que o Dias Ferreira, o Fernando Mendes ou o
Pedro Guerra.
Esperemos que alguém explique ao senhor quem é ele agora e
que não lhe fica nada bem este tipo de comunicação e de ameaças no mesmo dia em
que o partido do governo inicia o seu congresso. É pouco provável que o pobre
homem aprenda agora princípios que não adquiriu ao longo da vida, mas se não conseguirem
explicar-lhe isso ao menos convençam-no a poupar-nos a espetáculos ridículos.