quinta-feira, maio 03, 2018

AS MINHAS VERGONHAS E FALTAS DE VERGONHA

Desde o governo de Sócrates á última intervenção de Ana Gomes, são muitas a vergonhas e faltas de vergonha que tenho sentido. Não que sinta vergonha de algo que tenha opinado, mas sim de muitos agentes deste processo político e judicial que não raras vezes no proporciona comportamentos que roçam o miserável.

Desde logo deverei dizer que pessoalmente não me sinto envergonhado por causa de José Sócrates, apoiei algumas, quase todas as suas políticas e voltaria a apoiá-lo. Apoiá-lo-ia na modernização do Estado, na aposta na reforma do ensino, no fim das férias medievais dos magistrados e em muitos capítulos. Não o acompanharia em implosões ao lado de Belmiro, no keynesianismo de ocasião, no descontrolo da despesa em tempo de crise, nos sapatos Prada, na escolha de ministros como Pinho.

O governo de Sócrates gerou muitos ódios, por vezes animados pelos seus próprio tiques, mas a verdade é que muitas das reformas que implementou, sem ter as costas quentes de troikas ou de presidentes, eram necessárias e gerariam sempre oposição e ódios, muitos mais do que aqueles a que assistimos em relação a Passos Coelho.

Quanto às acusações, aparentemente resultantes dos últimos dois ou três meses de supostas investigações, logo veremos. Espero que os magistrados se comportem, nos tribunais de forma a não me envergonharem como sucedeu até aqui. Envergonha-me que em democracia tenha havido na justiça quem tivesse usado as investigações para recolher dados da vida pessoal que depois foram manhosamente usados para difamar e destruir um cidadão muito antes de haver qualquer acusação.

Envergonha-me que haja processos judiciais iniciados por cartas anónimas combinadas com polícias ou que os investigadores considerem como indícios as suas suspeitas pessoais. Envergonha-me que as polícias voltem a usar a difamação como o fazia a PIDE de outros tempos. Envergonha-me que o juiz de instrução deixe de ser o guardião do respeito pelos princípios constituição para dizer esfola depois da investigação dizer mata. Envergonha-me que o jornalismo deixe de vigiar as polícias do Estado como é de esperar em democracia para passar a ser um instrumento policial. Envergonha-me que hajam políticos a usar estes casos para ganharem posições em escolhas futuras.

Voltaria a escolher Sócrates? Não voltaria a escolher Sócrates para primeiro-ministro, mas apoiaria um governo que adotasse uma boa parte do seu programa, mas sem ministros como Teixeira dos Santos (a quem devo o apoio político a perseguições, Pinho, embaixadores como Manuel Maria Carrilho, para não referir deputados europeus que gosta de se evidenciar ou que foram militantes no apoio às medidas mais canalhas do governo de Passos Coelho.