A um mês do congresso do PS Ana Gomes achou que o seu partido não devia centrar os debates nos problemas do país, nas condições de vida daqueles que foram esmagados por uma política brutal de austeridade, nos problemas associados ao abandono dos campos na sequência de políticas agrícolas feitas a pensar no rendimento dos agricultores franceses.
Não, para Ana Gomes o importante era discutir Sócrates, da mesma forma que quando o governo de Sócrates implementava programas como a requalificação profissional, as energias renováveis , a modernização do Estado e muitas outras medidas, achou que o principal problema do país era atacar Sócrates porque Durão barroso permitiu que aviões americanos transportando extremistas islâmicos feitos prisioneiros tivessem aterrado nas Lages.
Já nesse tempo, talvez por não ter sido convidada para ministra dos Negócios Estrangeiros, Ana Gomes detestava Sócrates. Agora que se aproximava o congresso do PS e a escolha dos candidatos às eleições europeias, Ana Gomes achou que era o momento oportuno de abandonar a hibernação, chamando a si o poder de definir a agenda do PS, assumindo o protagonismo do próximo congresso.
Compreendo a esperteza da euro-deputada do PS, ainda que há muitos anos não consiga entender de onde lhe vem tanto poder dentro do PS e um direito vitalício a um tacho no Parlamento Europeu. O que não compreendo é porque motivo as ambições de protagonismo pessoal de Ana Gomes estão acima dos interesses do PS, do funcionamento do governo que consegue levar a legislatura até ao fim apesar da complexidade da solução política que o gerou.
Não compreendo porque motivo se deixe de debater os problemas do país, a pobreza, a falta de qualificação, a escassez de recursos humanos, o desenvolvimento económico, para se passar a debater os assuntos que constam na agenda política pessoal de Ana Gomes, que se prendem mais com a sua vaidade ou com os seus interesses pessoais, do que com o que poderá importar ao seu partido e ao país.
Sócrates cometeu o erro de não ter resistido à tentação de arrastar o PS para a sua defesa e apesar de António Costa se ter demarcado do seu processo, sem que o tenha condenado, têm sido várias as tentativas de envolvimento do partido nas questões judiciais. Ana Gomes conseguiu com uma intervenção o que Sócrates não tinha conseguido, colar o PS ao seu processo judicial, tudo para ter espaço para se exibir no congresso, aumentando o seu peso político e a sua capacidade de reivindicar posições.
Esperemos que o congresso do PS não se envolva em jogadas, sejam elas de Sócrates ou de Ana Gomes e em vez de discutir agendas pessoais opte por se preocupar com os problemas do país e dos portugueses. O país não tem nada que ver com ódios, ressabiamentos e ambições pessoais.