quinta-feira, janeiro 22, 2015

Cheira mal em Portugal

Enquanto se morre à espera de tratamento em intermináveis filas nas urgências do SNS floresce o negócio dos hospitais privado onde nada disto acontece. O ministro queixa-se das reformas antecipadas para justificar o problema nas urgência, mesmo sabendo que estes médicos não trabalhavam nas urgências há mais de dez anos, mas não reparou ainda na fuga dos médicos para o sector privado, empurrados pelas suas medidas.

A PGR recebe um jornalista que denuncia a violação do segredo de justiça e mesmo depois de acusações graves num artigo de opinião sugere ao jornalista que consulte um advogado. Todos os dias os jornais dão conta de supostas novas provas em processos sujeitos ao segredo de justiça e a PGR limita-se a abrir o processo da praxe.

Os mesmos sindicalistas que agendaram uma greve na TAP para defender o interesse nacional acabaram por trocar os interesses do país por uma mão cheia de alcagoitas, aceitando mesmo juntar-se ao governo para tramarem os colegas de empresa que não assinaram o negócio das alcagoitas.
  
Dantes os sindicatos defendiam os direitos dos trabalhadores e eram os seus representantes, agora os líderes sindicatos querem ser, parecer ou servir os patrões, não hesitando em apoiá-los contra os outros trabalhadores, como sucedeu no acordo oportunista entre alguns sindicatos e a TAP. No caso dos guardas prisionais o espectáculo é ainda mais deprimente, já se viu um líder sindical armado em representante dos serviços prisionais, justificando os controlos feitos em relação a um detido e agora assistimos ao espectáculo repuganante de ver um sindicato a denunciar que um detido tem umas botas com uma qualquer presilha proibida ou um cachecol do Benfica.

O governo sugeriu que os juízes do Tribunal Constitucional eram incompetentes, não faltou quem chamasse traidores aos escolhidos pela direita e que se manifestaram pela inconstitucionalidade dos cortes de vencimentos e pensões, alguns foram mais longe e sugeriram que fosse alterado o sistema de escolha dos juízes ou mesmo a extinção daquele tribunal. Os mesmos que disseram cobras e lagartos dos juízes do Tribunal Constitucional são agora os arautos da boa nova, os pensionistas deixaram de ter cortes nas pensões e os funcionários públicos até iriam receber 25% de um corte que foi considerado inconstitucional. Neste país já não há vergonha na cara.

Os mesmos gargantas fundas que diariamente mandaram provas inequívocas da culpa de José Sócrates, passando a imagem do maior criminoso do país e arredores mudaram agora de programa e em vez de provas da culpa mandam publicar a prova de que Sócrates sabia estar a ser investigado e  teve tempo para destruir todas as provas. No princípio Sócrates soube das investigações por um telefonema do filho, agora já soube por um amigo jornalista que confirmou a informação, daqui a uns tempos vamos saber que sabia de tudo ainda antes da abertura do processo. É assim a justiça portuguesa, prende com base em suspeitas transformadas em provas virtuais.

A Procuradoria-Geral chegou a emitir um comunicado esclarecendo que o processo contra José Sócrates foi iniciado com uma comunicação de um banco, a CGD, ao abrigo da lei do branqueamento de capitais. Mas depois de mais de um mês de provas diárias publicadas nos dazibaos da acusação, provas que davam para condenar Sócrates a várias perpétuas, ainda não apareceu nenhuma prova associada à tal comunicação da CGD. Fica-se com a sensação de que essa comunicação teve o mesmo valor das cartas anónimas, só serviu de argumento para abrir o processo.

O mesmo governo que por ódio mesquinho de um político pequenino ao seu antecessor destruiu tudo o que cheirasse a formação profissional com projectos da treta que não concretizou, gasta agora rios de dinheiro a eliminar desempregados nas estatísticas do desemprego, colocando-os a fazer cursos da treta, sem qualquer qualidade e dos quais não resulta qualquer qualificação profissional.
  
E a tudo isto, a este cheiro pestilento exalado do país e de algumas das suas instituições Cavaco diz não sei, não ouvi, não tenho nada que ver com o assunto, não é essa a minha praia, é um problema que não me assiste. Podem morrer portugueses como se fossem cães, abandonados num canto da sala de espera das urgências, podem ser violadas todos os valores constitucionais, podem meter as instituições da democracia de pernas para o ar que a tudo Cavaco responde com o sorriso de uma vaca da Graciosa..