quinta-feira, janeiro 15, 2015

Islamofóbico, eu?

Começa a haver a mania de impor uma opinião dominante, oficial, conveniente, politicamente correcta, defendida pelo Ministério Público ou das elites bem pensantes a todos os outros e quem fizer xixi fora do penico é logo acusado, condenado e humilhado na praça pública porque é fóbico de qualquer coisa. No tempo do processo Casa Pia ai de quem questionasse as teses da polícia, era logo acusado de ser ou defender os pedófilos, no caso de Sócrates os que levantarem o dedo para o defenderem são suspeitos de corrupção, nos debates sobre os direitos dos gays quem não concordar é homofóbico e agora ou dizemos que o islamismo é quase todo bondoso ou se é acusado de islamofóbico.
  
Há uma ideia de que as religiões monoteístas partilham o mesmo Deus e defendem a bondade de forma diferente, são todas bondosas, defensoras da paz e da vida, o problema está nos extremistas. Dizem-me que tal como no cristianismo no islamismo pratica-se a defesa da vida, mas se recuarmos um pouco no tempo vamos ver padres católicos a indicar aos falangistas quais os cidadãos que partilhavam ideias republicanas para que fossem fuzilados quase de seguida. Pouco anos depois foi o que se viu com a independência e divisão da Índia britânica em dois países, a Índia e o Paquistão. Enfim, obra de extremistas.
  
Quando ouço o íman da mesquita de Lisboa, pessoa com que simpatizo, não consigo esquecer que esta mesquita foi resultado do proselitismo dos muçulmanos do regime saudita, um regime apontado como liberal e amigo do Ocidente. Aos que acham que o islamismo da Arábia Saudita convido a irem lá ver Raef Badawi levar mais 50 chicotadas, totalizando as 1000 a que foi condenado. Este perigoso saudita que recebeu em 2014 o prémio dos Repórteres sem Fronteiras e receia-se que não suporte as próximas chicotadas. Talvez fosse boa ideia os que agora acusam tudo e todos de islamofobia irem juntar-se Às centenas de sauditas bondosos que assistem ao “espectáculo”.
  
Na história do Ocidente o que não faltam em todos os séculos são situações de violência religiosa, umas vezes praticadas pro cristãos, outras pelos muçulmanos e muitas vezes por ambos. O genaralíssimo Franco designou-se a si próprio como cruzado e criou uma guarda de honra de mouros, os mesmos mouros que foram as tropas fascistas mais sanguinárias. Não me recordo de o Vaticano ter condenado o cristianismo do Franco e ainda bem recentemente o papa Bento XVI beatificou umas largas dezenas de padres que morreram durante a guerra, mas o mesmo Vaticano ou a Igreja Católica de Espanha nunca pediu perdão pelos seus crimes como a eliminação dos assentos de baptismo das crianças de famílias republicanas que foram adoptadas à força por famílias de falangistas.
  
Impedir uma análise rigorosa dos fenómenos religiosos acusando todos os que dizem algo politicamente menos conveniente de cristianofóbia ou de islamofobia é ignorar a realidade ou, pelo menos, uma boa parte da realidade. Mais tarde ou mais cedo os fenómenos de violência religiosa terão de ser analisados de forma completa e isso implica discutir não só a sua natureza religiosa, mas também o papel dos países ocidentais e as consequências das acções das suas secretas desde há muitos anos, talvez desde o golpe de estado no Irão, que levou à deposição de Mossadegh e à ascensão dessa figura apalhaçada que foi o Xá Reza Pahlavi.
  
O Ocidente só tem feito asneiras e nalguns casos tem cometido mesmo alguns crimes e os mesmos que há poucas semanas viam no Estado Islâmico os democratas que iam libertar a Síria do tirano Assad acham agora que a capa da última edição do Hebdo, onde se responde ao terrorismo provocando os valores religiosos de todos os muçulmanos, digna de ser emoldurada, substituindo os crucifixos como símbolo da libertação dos valores do Ocidente. De atentado em atentado a Europa caminha para um beco e como já se viu no passado o Atlântico não vai salvar os EUA das consequências das suas asneiras.