terça-feira, janeiro 08, 2008

Da ética republicana à ética socratiana


Nos primeiros tempos do governo de Sócrates o conceito de “ética republicana” andava a todo o tempo na boa de dirigentes e governantes, tudo se justificava pela ética republicana. Nunca percebi muito bem o que a ética republicana tinha mais do que o meu conceito de ética, limitei-me a partir do princípio de que seria um pouco mais exigente, se diziam que era republicana por alguma coisa seria, talvez fosse reforçada pelos princípios dos velhos republicanos, ainda que esses mesmos princípios sejam hoje valores universais.

Passados dois anos deixou de se ouvir falar de ética republicana, pior ainda, já nem sequer se fala de ética, tantas são as situações que suscitariam uma gargalhada se alguém se lembrasse de voltar a usar esta bandeira esfarrapada. O caso da directora da DREN e o do inspector-geral da ASAE são exemplos disso, estes dois dirigentes da Administração Pública deveriam ter sido demitidos mas são mantidos nos lugares como se nada tivesse sucedido.

A directora da DREN perseguiu, recorreu a denúncias por telemóvel, deu entrevistas fazendo acusações e antecipando penas e nada lhe aconteceu. O inspector-geral da ASAE usa e abusa da asneira, leva a aplicação da lei ao exagero e quando se sente criticado usa o papão da EU para se justifica, viola ostensivamente a lei que lhe cabe fazer cumprir, dá entrevistas anunciado o encerramento e falência de metade dos restaurantes e mantém-se no cargo com aquele ar arrogante e vaidoso (para não dizer cagão) com que os portugueses começam a reconhecê-lo.

Defender os amigos e os que nos apoiam é uma virtude e neste ponto Sócrates até poderá ser merecedor de elogios, o apoio à directora da DREN ia sendo a sua terça-feira de Carnaval e o apoio que está a dar ao inspector-geral da ASAE vai ter custos ainda maiores pois a sua arrogância teve o condão de levar os donos dos restaurante onde quase todos os portugueses almoçam a falar mal do Governo. Só que estes senhores ocupam cargos públicos e é tendo em conta a imagem que estão a dar da Administração Pública com que Sócrates tem que se preocupar.

Se do ponto de vista pessoal de José Sócrates poderão ser merecedores de elogia, do ponto de vista do Estado e dos princípios por que este se deve reger já deveriam ter levado um pontapé no rabo. É esta a diferença entre a ética republicana (ou qualquer outra que seja adoptada para reger as relações entre o Estado e os cidadãos) e aquela que parece ser a ética socratiana, que aos poucos começa a reger a Administração Pública. Nas próximas legislativas veremos qual o prejuízo que estes "amigos" deram a Sócrates.