quarta-feira, janeiro 02, 2008

O que está a acontecer à direita portuguesa?


Até há pouco tempo as regras de jogo da política portuguesa eram claras no plano sociológico, a esquerda contava com uma maioria sociológica, a famosa “maioria de esquerda” a que se referia sistematicamente o PCP, e a direita contava com o apoio dos empresários, da Igreja e da maior parte da comunicação social. A direita contava com o apoio dos quadros mais destacados do mundo da gestão, assentando arraiais nalgumas universidades que serviam de viveiro de quadros que alimentavam os seus governos. Nem mesmo o sector empresarial do Estado escapava a esta lógica, a esquerda defendia ingenuamente a sua manutenção enquanto a direita emprestava os administradores que, não raras vezes, geriam as empresas públicas numa lógica de proveito próprio e de benefício dos parceiros privados.

O ano que terminou marcou uma mudança neste status quo, o mundo empresarial foge dos partidos de direita como o Diabo foge da cruz e nem o Opus Millennium escapa ao perfume da esquerda, passando directamente de uma administração escolhida nas sacristias da Opus Dei para uma administração onde se comete o pecado mortal de incluir um Armando Vara. Quem poderia imaginar que a administração do BCP poderia incluir alguém que tão traz um diploma das melhores universidades europeias ou, pelo menos, da Universidade Nova e, ainda por cima, ateu e quase iletrado?

O ano que terminou marcou o silêncio da Compromisso Portugal cujos líderes perceberam que não seriam a quem entregar o poder para além de ser muito provável que alguns dos patrões dos distintos gestores que lhe davam voz tenham concluído que o melhor seria esquecer este projecto. A par disso a própria Igreja deixou de sentir grande identidade com partidos de direita fracturados por questões que considera fundamentais, como é o caso do aborto.

Depois de se ter falado em refundação e renovação de programas a direita afundou-se com os militantes do PSD a escolherem o suicídio colectivo com a escolha da dupla Menezes/Santana e o CDS a servir de colete anti-Ministério Público a Paulo Portas. O programa político actual da direita resume-se ao silêncio de um Portas que evita grandes protagonismos, e ao desespero de Menezes que não esconde que o seu grande objectivo é chegar às comissões das obras públicas, tudo fazendo para impor pactos ao Governo ou, porque os recusa, torpedear os grandes projectos públicos.

Como se chegou a este ponto? É evidente que aqui há a mãozinha de Sócrates mas isso não bastou, uma importante ajuda veio dos investimentos estrangeiros que foram feitos nos últimos anos (Iberdrola, Prisa, La Caixa, etc.) e, acima de tudo, a incapacidade de os partidos da direita para manterem a lucidez dos seus líderes quando não estão no poder.

Como poderá a direita regressar ao poder desprezada por uma boa parte dois empresários, sem o quase monopólio da comunicação social, sem o apoio activo da Igreja e com líderes do calibre de Menezes e Paulo Portas? À direita já não basta a tão falada refundação.