quarta-feira, janeiro 16, 2008

Taxa de inflação, um indicador manhoso


Nenhum governo com bom senso antecipa uma taxa de inflação elevada, isso seria o reconhecimento da sua incapacidade e desencadearia comportamentos de antecipação anti-inflacionistas que acabariam por pressionar os preços no sentido da alta. A regra é mentir e o próprio modo de construção deste indicador ajuda a produzir a mentira já que a uma mesma taxa de inflação podem corresponder realidades económicas.

Sendo a taxa de inflação um indicador assente num cabaz de preços a mesma taxa pode ter impactos diferentes em função das variações dos preços dos vários bens e serviços incluídos nesse cabaz. Por exemplo, o aumento dos preços dos produtos alimentares pode ser superior à taxa o que significa que os agregados familiares de menores rendimentos sofrem um aumento de preços superior a essa taxa de inflação.

Como a taxa de inflação prevista condiciona as políticas salariais é conveniente para os governos estabelecerem previsões favoráveis para dessa forma pressionarem revisões salariais baixas. Desta forma matam dois coelhos com uma cajadada, podem ter um discurso económico optimista e manipulam a distribuição de rendimentos sem terem que assumir as consequências de políticas de rendimentos encapotadas que penalizam os mais pobres.

A taxa de inflação deixa de ser um indicador económico credível pois apenas tem utilidade enquanto previsão e a taxa de inflação prevista é uma mentira sistemática. Este, como todos os outros governos, tem optado pela falta de seriedade em política económica, alta de seriedade que lhe tem permitido ter uma política de baixa sistemática dos rendimentos do trabalho sem ter que assumir as consequências políticas dessa opção.

Talvez seja tempo de os trabalhadores exigirem que as renegociações salariais deixem de ser feitas em função do futuro mas sim do passado, em vez de negociarem salários em função da taxa de inflação prevista deverão negociar com base na taxa constatada no final do ano. A alternativa é deixar de negociar com base nas taxas de inflação previstas pelos governos pois há muito que a mentira é o mais poderoso instrumento de política económico.

O governo assegura que a taxa de inflação não vai aumentar, mais uma vez está a mentir ou, pelo menos, a omitir, Sócrates sabe que não pode controlar a inflação e que uma boa parte do aumento dos preços do crude ocorreram no final de 2007 pelo que só agora se farão sentir. Sabe também que os preços dos produtos agrícolas têm subido, no ano passado esse aumento foi quase brutal nos cereais e este ano serão evidentes não só nos produtos que resultam da transformação de cereais, bem como nas carnes, cujos preços estão a subir em função não só do aumento dos preços dos cereais mas também da escassez.