O recente anúncio do aumento do preço do leite e a redução do iva aplicados nos ginásios são dois bons exemplos de má informação. Os jornalistas dão a notícia sem um mínimo de conhecimento, os distintos opinion makers produzem as competentes “postas de pescada” e andamos todos a falar do que não sabemos.
O aumento do preço do leite era inevitável, o mesmo sucedendo com todos os produtos agrícolas cuja produção depende dos cereais, é o caso das carnes de vaca, de suíno e de aves, dos ovos e de uma infinidade de produtos alimentares e de bebidas, assim como de alguns produtos industriais (que utilizam amidos como, por exemplo, o papel, os tecidos ou os antibióticos).
Evolução do mercado comunitário do leite em pó desnatado (SMP) [Fonte: UE]
O aumento dos preços dos cereais (milho e trigo mole) resulta da combinação de vários factores: redução quase total dos stocks, aumento da procura para produção de biocombustível, aumento da procura nas economias emergentes (Rússia, Índia e China) resultante do aumento de rendimentos e da valorização das suas moedas face ao dólar, e redução da produção comunitária. A escassez de alguns produtos chegou ao extremo de Argentina, que é um tradicional exportador de carne de bovino, ter chegado a proibir a exportação para assegurar o abastecimento interno.
Todavia, por aquilo que se vai ouvindo “alguém” decidiu aumentar o preço do leite, os produtores estarão a reter os stocks esperando por esse aumento e os distribuidores protestam porque antecipando esse aumento gostariam de usar os stocks para ganhar mais algum e usá-los em promoções. Até a Deco e os produtores até dizem que não são eles que beneficiam do aumento do preço.
Evoluçao e previsão dos preços na UE do leite em pó desnatado [Fonte: UE]
A verdade é que o preço do leite vai continuar a aumentar, o mesmo sucedendo com a generalidade dos produtos alimentares, sem stocks de cereais (a intervenção comunitária não os tem) é impossível responder ao aumento da procura e a sua produção só reagirá tardiamente.
No caso da redução do IVA nos ginásios eu próprio fui induzido em erro pela comunicação social, confiei na justificação que foi dada ainda que não tenha ido tão longe quanto alguns doutos comentadores que chegaram a estabelecer uma relação entre esta redução do impôs e as corridinhas do primeiro-ministro.
Tal como estavam as taxas do IVA os portugueses pagavam iva reduzido quando compravam o ingresso para ir à bola e suportavam a taxa máxima quando inscreviam o filho numa escola de futebol. As despesas associadas à prática desportiva (desde os ginásios às inscrições em provas desportivas) estavam sujeitas à taxa mínima enquanto os espectadores beneficiavam de uma taxa reduzida. O que se fez foi corrigir esta situação anacrónica e não o que algum jornalista se lembrou de informar, que se pretendia baixar o preço dos ginásios.
O que não se entende nestes casos é o facto de o governo ter mantido o silêncio, no caso dos produtos alimentares os portugueses deviam ser esclarecidos e avisados para uma realidade que lhes tem saído cara, enquanto no caso do IVA era do seu próprio interesse esclarecer o equívoco. Mas, num caso como no outro, o governo optou pelo silêncio apostando na memória curta dos cidadãos e na prática dos jornalistas e comentadores, por mais importante que seja um assunto este só é assunto enquanto não surgir nada de novo. Alcochete fez esquecer o Tratado, o BCP fez esquecer Alcochete, o leite ajudou a esquecer o BCP e os jogos de futebol deste fim-de-semana darão todos estes assuntos por definitivamente encerrados.